Crítica

Sarah Jessica Parker se consagrou como uma das maiores estrelas da televisão moderna com o seriado Sex and the City, que rendeu 6 temporadas, dois longas (2008 e 2010) e inúmeros prêmios para a ela, como um Emmy, três Screen Actors Guild (SAGs) e quatro Globos de Ouro, entre tantos outros. Mas, antes disso tudo, a atriz havia dado seus primeiros passos no cinema, em filmes como Footloose (1984), L.A. Story (1991), Abracadabra (1993), Ed Wood (1994), O Clube das Desquitadas (1996) e Marte Ataca! (1996). Com o fim da série, retornou à tela grande buscando um espaço ainda maior, de acordo com a condição de estrela conquistada. E após alguns trabalhos de destaque ao lado de nomes como Diane Keaton, Matthew McConaughey e Hugh Grant, finalmente conseguiu sua primeira experiência cinematográfica como protagonista absoluta neste Não sei como ela consegue. E se o resultado geral não é dos mais impressionantes, ao menos ela está completamente à altura do desafio proposto.

Kate Reddy, sua personagem neste Não sei como ela consegue, é charmosa, graciosamente desajeitada e dona de um ótimo coração – exatamente como Carrie Bradshaw, sua criação mais famosa. Mas é quase como uma evolução, uma visão de como aquela mulher estaria anos depois, já casada, com filhos e ainda ativa no mercado de trabalho. Kate é uma executiva que trabalha com aquisições, planos de aposentadoria e grandes negócios. Ao mesmo tempo é casada, feliz ao lado do marido e mãe de duas lindas crianças, uma menina de 4 anos que sente falta dela e um menino de 2 que ainda não começou a falar – talvez por falta de incentivo materno?

Kate se culpa por não ter tanto tempo para dispor ao lado da família, mas ao mesmo tempo a nítida impressão que temos é que são os esforços dela que sustentam toda a estrutura familiar. Afinal, o que sabemos do marido (Greg Kinnear, indicado ao Oscar por Melhor é Impossível, 1997) é que ele é um arquiteto se aventurando num negócio próprio, sem estabilidade ou expectativas mais confirmadas além de um contrato que pode ou não dar certo. Tudo se complica na vida de Kate quando um projeto de sua autoria desperta a atenção de um investidor (Pierce Brosnan, elegante e atraente na medida certa) do outro lado do país, e para que o negócio funcione a presença dela ao lado dele se faz necessária com uma regularidade cada vez maior, aumentando o tempo dela longe dos filhos e do marido.

Como todos os personagens de Não sei como ela consegue são absolutamente unilaterais, não será necessário esperar por nenhuma grande surpresa ou frustração, e tudo decorre de acordo com o esperado. Se uma paixão inesperada surge, ela é rebatida pela firmeza do amor que sente por seu companheiro de anos. Se o trabalho interfere na estrutura familiar – e vice-versa – isso acontece por desorganização dela, não por um ser mais importante do que o outro. Portanto, obviamente, não será justificado qualquer tipo de desistência, e sim um melhor cronograma de atividades, ajeitando tudo para que o que realmente importa seja feito com eficiência: seja em casa, seja no escritório. Essa é a principal lição do filme: com uma boa agenda e a colaboração de todos os envolvidos, nenhum sonho precisa ser abdicado, profissional ou familiar.

Com direção de Douglas McGrath, indicado ao Oscar pelo roteiro de Tiros na Broadway (1994) e realizador de obras pouco conhecidas, como Emma (1996) e Confidencial (2006), Não sei como ela consegue conta ainda com um bom elenco de coadjuvantes, dos quais se destacam Christina Hendricks (da série Mad Men), como a melhor amiga Allison, e Olivia Munn (Homem de Ferro 2), como a impagável Momo. Mas o que importa aqui mesmo, no final das contas, é Sarah Jessica, que mesmo sem ser tão jovem quanto o esperado (ela está com 46 anos, um pouco acima da idade mais adequada para esse papel) continua interessante e carismática. E o enredo, apesar da falta de nuances, é alegre e envolvente como um programa despreocupado, que entretém sem provocar nenhum tipo de dor de cabeça. Afinal, depois da correria do dia a dia, tanto na vida real quanto na ficção, tudo o que queremos é um pouco de fantasia. E às vezes isso mais do que basta.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *