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Sinopse

Compositor de enorme sucesso, Danny Collins está há anos sem criar nada que possa ser considerado novo. Ao saber de uma carta em que John Lennon elogia seu trabalho, ele decide rever todas as suas decisões e começar de novo.

Crítica

Durante os anos 1970, quatro jovens atores se destacaram ao mesmo tempo em Hollywood, formando um grupo imbatível de astros que combinavam talento com popularidade: Jack Nicholson, Robert De Niro, Dustin Hoffman e Al Pacino. Este último, ainda que tenha estrelado uma das maiores sagas cinematográficas de todos os tempos – O Poderoso Chefão – foi o que mais demorou a ganhar um Oscar, é o único deles que tem apenas uma estatueta e há um bom tempo vem demonstrando sinais de fadiga e uma postura combalida, como se todos os personagens que interpretou na última década fossem somente variações do mesmo tema. É com felicidade, portanto, que percebemos que provavelmente estes não passavam de sinais em falso. Afinal, após o tour de force que entregou em O Último Ato (ainda em cartaz nos cinemas), está de volta às telas com o emocionante Não Olhe Para Trás, um filme que trilha caminhos já conhecidos, porém com desenvoltura e segurança, fazendo deste processo uma grata surpresa.

Pacino assume mais uma vez – ao menos no início – um físico acabado, de ombros caídos e olhar meio perdido como o popstar Danny Collins, um cantor aclamado pelas multidões que lotam arenas para aplaudi-lo e vê-lo cantar sempre as mesmas canções – afinal, há anos ele não grava nada de novo, e não por acaso sua atual turnê se chama The Greatest Hits Volume 3! É justamente neste ponto em que não aguenta mais a si próprio, cansado da namorada com metade da sua idade que o trai com alguém muito mais jovem, das fãs que o assistem sentadas e comendo doces, e da quantidade de pó que precisa cheirar quase que diariamente para seguir em frente, que ele recebe um presente que o faz repensar toda sua vida: uma carta dirigida a ele e escrita por John Lennon, trinta anos antes. A correspondência se perdeu no caminho e foi parar com um colecionador, e ele só fica sabendo dela agora, três décadas após. Na mensagem, votos de confiança ao artista em início de carreira escritos por um dos seus maiores ídolos, que tomou conhecimento de sua existência após lê-lo em uma entrevista.

Esse foi o tapa na cara que faz Danny acordar e perguntar a si mesmo: se a tivesse recebido na época em que foi enviada, teria ele feito as coisas diferente? E se é para mudar, será que ainda há tempo? Após essa premissa curiosa – que, a propósito, é inspirada em um fato real envolvendo de fato Lennon e um outro cantor que ele admirava, Steve Tilston – Não Olhe Para Trás segue um desenrolar bastante seguro e previsível: o protagonista abandona seus vícios, se refugia em uma cidade do interior, redescobre o flerte genuíno – e não interesseiro – com alguém mais adequado à sua idade (Annette Bening), decide voltar a compor e parte em uma missão para reparar o maior erro do seu passado: ou seja, vai atrás do filho de nunca conheceu (Bobby Cannavale), fruto de um caso com uma groupie. Neste intervalo, se aproxima da nora (Jennifer Garner), ao mesmo tempo em que tenta acalmar os ânimos do seu empresário (Christopher Plummer).

A história de Não Olhe Para Trás – o título nacional pode parecer genérico demais num primeiro momento (o original é apenas Danny Collins, nome do protagonista), mas acaba fazendo sentido – não apresenta nada de novo, além do prazer em reencontrar bons atores em cena. O diretor de primeira viagem Dan Fogelman, mais conhecido em Hollywood como produtor e roteirista, não compromete atrás das câmeras, mas também trilha apenas terreno seguro, saindo da frente para não atrapalhar as performances dos seus astros. Pacino está em casa, leve como poucas vezes nos últimos anos, e vê-lo ao lado de nomes como Bening ou Plummer é bastante prazeroso. O núcleo familiar com Cannavale e Garner é também convincente, e a trama entre pai e filho (e neta), ainda que resvale no melodrama açucarado em mais de um momento, sabe emocionar sem exageros. Por fim, tem-se um filme longe de ser inesquecível, mas também fácil de ser assistido e divertido de se acompanhar, em que a soma das partes envolvidas é maior do que o todo apresentado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
7
Ailton Monteiro
6
MÉDIA
6.5

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