Crítica


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Sinopse

Valentin sempre levou uma vida despreocupada no México, saindo com várias mulheres e alternando entre pequenos trabalhos. Um dia, uma mulher bate à sua porta e lhe deixa um bebê, dizendo ser sua filha. Apesar da surpresa inicial, Valentin se muda para os Estados Unidos e cria a pequena Maggie durante vários anos, tornando-se um homem responsável e encontrando um emprego fixo como dublê em filmes de ação. Seis anos mais tarde, a mãe de Maggie reaparece, com a intenção de levar a filha de volta com ela.

Crítica

Por um lado, temos o fato de ser a produção falada em espanhol de maior sucesso de público de todos os tempos nos Estados Unidos. Por outro, temos uma trama indefinida, que começa com toques cômicos no melhor estilo pastelão, para em seguida apresentar reviravoltas melodramáticas forçadas e encerrar com um dramalhão digno dos romances mais baratos. Não Aceitamos Devoluções é o que se poderia definir como ‘comédia dramática’ – na falta de melhor expressão – uma produção formulaica que segue conceitos pré-definidos (até suas surpresas são calculadas) específicos para agradar a fatia mais ampla possível da audiência média, sem se preocupar muito com originalidade ou em oferecer um conteúdo realmente relevante. Curiosamente, no entanto, foi justamente esta postura medíocre que a levou a fazer história.

Lançada nos cinemas norte-americanos sem maiores pretensões, Não Aceitamos Devoluções estreou em quarto lugar no ranking, enfrentando sucessos como o drama O Mordomo da Casa Branca (2013) e o documentário musical One Direction: This Is Us (2013). O boca a boca positivo, principalmente entre a comunidade latina, começou lentamente a contar a seu favor, levando-a a permanecer por mais de quinze semanas em cartaz nos Estados Unidos e arrecadando, nas bilheterias de todo o mundo, até o momento, quase US$ 100 milhões! Se levarmos em conta que seu orçamento foi vinte vezes menor, é possível imaginar o tamanho do impacto do seu desempenho.

Mas isso é suficiente para afirmar que se trata de um bom filme? Muito pelo contrário. Não Aceitamos Devoluções é um longa esquemático, que se apoia quase que exclusivamente em clichês e em soluções fáceis, composto por personagens estereotipados e com um enredo previsível ao extremo. Seu impacto junto a um determinado tipo de espectador só pode ser avaliado levando-se em conta diversas variáveis – locais, sociais, econômicas, culturais – que certamente influenciam sua repercussão em outros mercados. Como o brasileiro, por exemplo. É o tipo de produção que certamente terá um retorno muito maior entre uma fatia de público mais humilde, nas cópias dubladas e em cidades menores. Reflexo de uma falta de sofisticação tanto em relação ao conjunto apresentado como no que diz respeito a sua própria estrutura narrativa.

Escrito, dirigido e interpretado por Eugenio Derbez – reconhecido como Melhor Ator nos Prêmios Platinos – Não Aceitamos Devoluções conta a história de um mexicano mulherengo e inconsequente que descobre ter uma filha de menos de um ano quando a mãe da criança a deixa em seus braços, partindo para não mais voltar. Com essa nova responsabilidade, ele acaba partindo para Los Angeles, onde descobre vocação para uma carreira no cinema como dublê profissional. Tudo funciona às mil maravilhas – eles têm dinheiro, um bom apartamento, e levam uma vida infantilizada, em que a garota passa o tempo todo brincando. É uma tentativa do pai protegê-la do abandono materno, mas também elimina maiores possibilidades de conflito. Isso até o retorno da mãe, agora uma advogada poderosa decidida a recuperar a guarda da filha.

Se na metade final Não Aceitamos Devoluções abandona o humor escrachado – do tipo torta na cara – e se torna um legítimo novelão mexicano, com direito à testes de paternidade e doenças incuráveis, é porque há muito abandonou qualquer possibilidade de crítica – sobre as condições dos estrangeiros nos EUA, por exemplo – e se afunda irremediavelmente em uma fórmula fácil e linear. Há méritos envolvidos, principalmente no que diz respeito às questões técnicas – o longa, de origem mexicana, não fica devendo em nada à qualquer produção hollywoodiana mais convencional – mas enquanto exercício fílmico ou mesmo mero entretenimento há muito ainda a ser trilhado. Esquecível, passageiro e até mesmo constrangedor em algumas passagens, é um caso a ser observado com mórbida curiosidade somente por questões de mercado, mas nunca a ser admirado ou repetido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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