Crítica

Quem assistiu ao trailer de Namoro ou Liberdade pode ter pensado que o filme se concentraria na amizade entre os três protagonistas e as desventuras que o trio teria com o sexo oposto. Como muitos previews, este também engana um pouco. O filme do estreante diretor e roteirista Tom Gormican é apenas uma comédia romântica comum, com bons momentos e atuações competentes, mas nada mais do que uma produção normal do gênero. Para a mulherada, pode dar a falsa impressão de que revela algo escondido sobre a amizade masculina. Talvez, se formos falar de amigos que vivam em Nova York, bonitos, com dinheiro e, aparentemente, com todo o tempo livre do mundo. Ou seja, um universo limitado. De qualquer forma, é possível se divertir com Namoro ou Liberdade. Basta estar no clima.

Então. Para Jason (Zac Efron), nada que venha depois da palavra “então”, proferida por uma mulher, pode ser bom. Significa que ela deseja algo a mais, um compromisso que ele simplesmente não está preparado para assumir. Pulando de um caso para outro em uma vida sexual bastante ativa, Jason é aquele sujeito que é ótimo em uma festa, péssimo quando se realmente precisa. Seu encontro com a bela Ellie (Imogen Poots) pode mudar isso. À procura de mais um caso passageiro, os dois se conhecem num bar e descobrem muitas afinidades. Isso poderia representar o fim da vida de exageros de Jason? Seria mais fácil caso o rapaz não tivesse feito a promessa de ficar solteiro junto de seus amigos, depois que um deles, Mikey (Michael B. Jordan) foi largado pela esposa, Vera (Jessica Lucas). Daniel (Miles Teller) concorda com o plano de Jason, pois também deseja só galinhar, sem nenhum tipo de compromisso. Isso até engatar um ou dois encontros ótimos com a amiga de longa data Chelsea (Mackenzie Davis). Por sua vez, Mikey tenta de todas as formas reatar com a ex-mulher. Tudo indica que será bem difícil manter a tal promessa.

Para uma comédia como Namoro ou Liberdade, o desafio número 1 de Tom Gormican seria convencer o espectador de que aqueles três homens são amigos de longa data. E nisso, o diretor estreante consegue uma nota alta. Zac Efron, Miles Teller e Michael B. Jordan parecem se divertir horrores entre si, completando frases um do outro, dando respostas rápidas, fazendo piadas e todo o tipo de besteira que homens costumam dizer para amigos. Gormican deu espaço para improvisos e fez bem em ter atores acostumados a interpretações bastante naturais. Miles Teller, por exemplo, já havia feito Projeto X (2012), e Michael B. Jordan, Poder sem Limites (2012), duas produções que tentavam convencer o espectador de que tudo se tratava de cenas reais, filmadas pelos personagens. Por mais manjado que seja este estilo de found footage, ao menos ensina o ator a ser o mais natural possível. E nisso, tanto Teller quanto Jordan são excepcionais. O primeiro tem ótimo timing cômico, sendo o destaque neste quesito. O segundo convence com sua aflição pelo fim do casamento. Esta dupla, escalada para o reboot de Quarteto Fantástico, já mostra bastante entrosamento. Zac Efron, por sua vez, não decepciona, tendo aprendido muito desde os seus tempos de queridinho teen de High School Musical.

O elenco feminino é igualmente cativante e, felizmente, foge do padrão mulher-gostosona-de-hollywood. Imogen Poots, Mackenzie Davis e Jessica Lucas são garotas belíssimas, mas com um visual pé no chão, girl next door. Mulheres que poderíamos encontrar e conhecer em um bar em Nova York - com alguma sorte. Apesar da aparência mais natural, existe o extraordinário nelas, por representarem fantasias masculinas. Ellie gosta de videogame, de beber e de literatura. Já Chelsea servia como parceira de festas dos homens, arranjando belas garotas para os amigos. Só Vera talvez não caia nesse quesito, a não ser que a fantasia do sujeito é ser traido pela esposa. De qualquer forma, ela transa com seu ex no local de trabalho, o que pode despertar algum fetiche.

O problema de Namoro ou Liberdade é o meio do caminho. Em alguns momentos, parece querer ser uma comédia de amigos, com piadas mais sujas. Em outros, parte para o romantismo como um filme estrelado por Hugh Grant ou Katherine Heigl. Isso e algumas atitudes inacreditáveis de alguns personagens estragam a experiência. Como toda a comédia romântica, é necessário que os casais se desfaçam no final do segundo ato para que reatem no terceiro. A forma como isso acontece, no entanto, soa exagerada. Ainda que o personagem em questão tenha se mostrado egoísta em diversas passagens, é difícil acreditar que o rapaz seria tão insensível. Mais certeiro - e engraçado - é o desenlace que ocorre em meio a uma festa de Ação de Graças.

Com uma boa trilha sonora, com destaque para canções de bandas indie como Unknown Mortal Orchestra e The Horrors, Namoro ou Liberdade não consegue disfarçar por muito tempo que é apenas uma comédia romântica corriqueira, mas quem gosta do gênero e não se importa com alguns clichês básicos pode se divertir. Talvez não tanto quanto os atores parecem ter curtido a empreitada, mas quase.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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