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Sinopse

Sal Paradise é um aspirante a escritor que acaba de perder o pai. Ao conhecer Dean Moriarty, é apresentado a um mundo no qual há bastante liberdade no sexo e no uso de drogas. Logo se tornam grandes amigos, dividindo a parceria com a jovem Marylou, apaixonada por Dean. Os três viajam pelas estradas do interior dos EUA, sempre dispostos a fugir de uma vida monótona e cheia de regras.

Crítica

O romance On The Road, de Jack Kerouac, é um clássico da literatura norte-americana e uma das bases da cultura beatnick, que influenciou toda uma geração. No entanto, coube a um cineasta brasileiro a tarefa de adaptá-lo para a tela grande. E se Walter Salles não se sai plenamente ao alcance das expectativas, ao menos foi fiel à obra de origem, numa transposição quase literal. E o problema talvez tenha sido justamente esse: respeito em exagero. Na Estrada é um daqueles filmes que assistimos com a impressão de estar lendo um livro, pois tudo fica em evidência, mesmo o que não necessita. A imagem, aqui, é um acessório, pois a força está nas palavras. E onde deveria haver um equilíbrio há apenas excessos e carências.

Selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cannes, onde foi recebido com ressalvas e terminou saindo de mãos abanando, Na Estrada conta a história de Sal (Sam Riley), um rapaz que deseja ser escritor e está em busca da inspiração criativa que o levará a deixar a teoria e partir, finalmente, para a ação. Essa experiência que lhe falta será providenciada através do relacionamento com Dean (Garrett Hedlund), um jovem completamente rebelde e desligado de tudo – e de todos, inclusive. Dean será o ídolo, o irmão mais velho, o melhor amigo, o companheiro, quase o amante (ah, esse puritanismo provinciano...). Os dois se atiram pelas estradas do interior dos Estados Unidos, conhecendo tipos, acumulando histórias, visitando do Canadá ao México. Em suma, eles aprendem a viver. O problema é que nem todos assimilam a lição com a mesma agilidade e lucidez.

Os personagens secundários são um dos charmes de Na Estrada. Se Kristen Stewart (que conseguiu o papel após o diretor vê-la em Na Natureza Selvagem, 2007) se distancia com eficiência da icônica Bella da Saga Crepúsculo, adicionando sexo e tesão à trama, Kirsten Dunst, outra das amantes de Dean, não possui oportunidades de ir muito além da depressão já vislumbrada com muito mais eficiência em Melancolia (2011). O casal formado por Viggo Mortensen e Amy Adams é um caso à parte, e mesmo numa aparição tão fugaz os tipos que criam são tão intensos e transcendentais que conseguem ficar marcados em nossas mentes. Terrence Howard, Steve Buscemi, Elisabeth Moss e a brasileira Alice Braga também são outros destaques do elenco, mas todos em participações pequenas demais para conseguirem distrair nossa atenção do duo central. São pessoas que passam pelo caminho dos dois, com significados maiores ou menores, e que assim como chegam, logo desaparecem. A jornada, aqui, é muito mais íntima do que externa. Ou ao menos deveria ser.

Walter Salles é um realizador que sempre manteve seu pé em constante movimento. Desde seu primeiro filme (A Grande Arte, 1991) passando pelo celebrado Central do Brasil (1998) e a primeira experiência internacional bem sucedida (Diários de Motocicleta, 2004), seus longas sempre procuraram retratar pessoas em uma transformação motivada pela constante troca de ambientes e cenários. Por isso sua escolha para comandar a versão cinematográfica de Na Estrada parece mesmo um tanto óbvia. Mas o foco aqui, no entanto, é o que se passa na pessoa, com o artista, e não no seu redor. É por isso que tantas referências, situações paralelas e eventos em confronto, ao invés de colaborarem na formação desse retrato, acabam diluindo o foco inicial. E assim temos um filme belo, muito bem fotografado, com uma ótima trilha sonora e uma edição competente, mas que peca no principal: a tarefa de envolver o espectador. Exatamente o que não aconteceu com o protagonista em sua jornada real.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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