Crítica


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Sinopse

Quando uma força obscura ameaça Ponyville e a Mane 6, os pequenos pôneis embarcar em uma viagem até o fim de Equestria para salvar sua amada casa. Lá eles conhecem novos amigos e passam por desafios perigosos ao longo do caminho.

Crítica

No princípio tudo era brinquedo. Depois surgiu uma série de televisão de bastante sucesso – cuja função, obviamente, era ajudar nas vendas. Somente mais tarde os pôneis ganharam a telona. My Little Pony: O Filme, novo derivado cinematográfico dessa marca consolidada em outros meios, é uma produção evidentemente preocupada em agradar, antes de tudo, seu público-alvo. Portanto, a trama simples e multicolorida não se insere no tipo de exemplar que também intenta fisgar os espectadores mais maduros, porque não aposta em qualquer aprofundamento ou subtexto em meio à missão de salvar a festiva cidade de Equestria das garras do vilão Storm. De cara temos uma relativamente eficiente apresentação de personagens que dá conta de contextualiza-los aos não iniciados. Assim, logo estamos por dentro de quem é quem, e de como funciona o reino mantido pela magia e a cooperação entre os diversos tipos de pôneis.

My Little Pony: O Filme bebe, em certos níveis, da fonte das animações tradicionais da Disney. Portanto, são recorrentes os números musicais que entrecortam o enredo para movê-lo adiante. As canções são geralmente pautadas pela necessidade de valorizar a amizade, de redescobrir a força interior perdida, entre outras reafirmações semelhantes de valores considerados ideais a serem disseminados entre os pequenos. Quanto ao conflito, ele é calcado numa dinâmica surrada, a da assecla principal, a serviço do antagonista, movida por um trauma do passado. No caso, Tempest, uma pônei-unicórnio com pose de durona que promete entregar o poder das quatro princesas de Equestria a Storm em troca da restauração de seu chifre. É ela quem costumeiramente caça a turminha fugida da cidade tomada pelos maldosos que a subjugam para o patrão abobalhado e muito esparsamente presente em cena.

My Little Pony: O Filme possui um desenvolvimento ingênuo, bem ao gosto do público ao qual se dirige. Durante a caminhada de Twilight, que pode ser considerada a protagonista do longa-metragem, com os amigos pelos perigos do mundo externo, são reforçados laços de camaradagem, gatunos se arrependem de atos vis motivados por dinheiro ou algo que o valha, descobrem-se civilizações até então consideradas praticamente erradicadas, entre outros desdobramentos mais ou menos funcionais. Contudo, predomina a sensação de estamos diante de uma realização conformada em gravitar em torno da órbita do mais do mesmo, sem propiciar exatamente uma progressão no que tange, inclusive, aos ensinamentos colocados em jogo por conta do desespero da princesa restante. Nem os conflitos surgidos são suficientemente importantes para significar mais que meros solavancos sem maiores efeitos.

A previsibilidade de determinadas resoluções, como a recusa inicial dos hipogrifos de ajudar os pôneis a salvar o reino sequestrado, é apenas uma das fragilidades patentes de My Little Pony: O Filme, algo parcialmente justificável pela obediência aos anseios e às características do público-alvo. Várias possibilidades são desperdiçadas, como o motivo da obsessão de Tempest pela restauração de seu chifre, as diferenças de pensamento num grupo aparentemente tão heterogêneo quanto o liderado por Twilight, e, até, o peso que recai sobre os ombros desta. As canções são bonitinhas, eficazes como elemento narrativo, mas exploradas tão superficialmente quanto os demais componentes. A mensagem “a amizade a tudo vence” perpassa integralmente o filme, consolidando-se no fim em que, obviamente, o bem vence facilmente o mal. A ingenuidade poderia ser charmosa, mas acaba aqui como debilidade estrutural.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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