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Sinopse

Quando uma jovem descobre que seu namorado é casado com outra mulher, ela entra em contato com a esposa dele e propõe que as duas se vinguem juntas. Uma estranha amizade começa a nascer entre as duas, mas a situação fica pior quando elas descobrem que uma terceira mulher está envolvida. Logo, a terceira pretendente se une ao grupo, para dar uma lição no marido infiel.

Crítica

Comédias românticas são todas iguais. Dito isso, o que Mulheres ao Ataque tem de diferente? Simples: o fato de não ser afiliar tão facilmente nesta definição! Trata-se, claro, de uma obra cômica – e, caso seja encarada com bom humor e despreocupação, é possível dar boas risadas. E há um certo ar de romance, com mocinhas de diferentes idades enfrentando as dificuldades do amor. Mas, antes de mais nada, é um filme feminista. De e sobre mulheres. E este é o seu maior diferencial. A trama tem um ponto de vista feminino, são elas as melhores personagens, com dúvidas, inseguranças, metas e objetivos, e eles se tornam meros coadjuvantes com um único propósito: servir de escadas para o brilho delas. E por isso já justifica uma conferida.

Os primeiros cinco minutos de Mulheres ao Ataque permitem vislumbrar uma perfeita e ordinária história de amor: casal se conhece, transam, começam a sair juntos, um surpreendendo o outro sempre que possível, ele passa a estar cada vez mais presente da casa dela, até que sugere conhecer o pai da moça. Tudo correndo às mil maravilhas, até a cena seguinte, quando ele aparece acordando numa cama... com outra mulher. Porém essa está de óculos, cabelos presos e pijamas folgados. Ou seja, é a esposa, enquanto que a primeira trata-se, na verdade, da amante. Mas não uma convencional, que conhecia seu papel no triângulo – na verdade, é tão traída quanto a oficial. E tudo piora quando as duas se dão conta de que ele, não satisfeito, arrumou mais uma namorada, e bem mais jovem do que elas!

Mulheres ao Ataque seria somente mais uma produção dentre tantas outras similares do gênero se não fosse essa importante mudança de foco. O normal, o caminho mais usual a ser seguido quando uma situação como a aqui descrita se apresenta, é de vermos as personagens enfrentando-se entre si em busca de um troféu – o marido/namorado. Dessa vez, não. Ao invés de estarem em lados opostos, percebem que estão no mesmo barco e, portanto, se unem contra o ‘inimigo’ em comum. De personalidades distintas – a esposa é ingênua, a dona de casa que é facilmente enrolada, enquanto que a amante é uma mulher forte e decidida e a namorada é uma ninfeta gostosa e não muito inteligente – elas compõe, num todo, a mulher perfeita. Isso para olhos masculinos de uma sociedade patriarcal. O que, felizmente, o filme se esforça em desconstruir com boas e bem desenvolvidas surpresas.

De nada serviria a estrutura apresentada em Mulheres ao Ataque se não fosse a feliz química que surge entre Cameron Diaz – bela e cada vez mais segura de si – e Leslie Mann – dona de um timing cômico absurdo. As duas fazem gato e sapato quando juntas, e ainda que a amizade que surge entre elas seja um pouco forçada – principalmente no início, quando a traída insiste em desabafar com aquela que, bem ou mal, faz parte do motivo de sua desilusão – a dinâmica que aos poucos estabelecem é hipnotizante. Kate Upton tem pouco a fazer além de expor uma presença quase obscena – em certo diálogo, as três se definem como “a esposa, a amante e os seios” – e Nikolaj Coster-Waldau assume a brincadeira com gosto, abraçando com coragem até mesmo passagens possivelmente constrangedoras perante olhos mais sensíveis. Nada, no entanto, que destoe do conjunto.

Mulheres ao Ataque foi um impressionante sucesso de bilheteria, derrubando ninguém menos do que Capitão América 2 (2014) do topo do ranking norte-americano em sua estreia e arrecadando mais do que o dobro do seu orçamento de US$ 40 milhões em todo o mundo. Dirigido com tranquilidade por Nick Cassavetes – que já teve voos mais ousados antes, mas que aqui se contenta em apenas sair do caminho do elenco e deixá-los fazer o que tão bem sabem – e contendo como atrativo extra a estreia como atriz da rapper Nicki Minaj em participação mínima, este é um filme que entretém sem exigir demais, além de permitir que aqueles mais esforçados encontrem conteúdo pertinente para uma análise um pouco mais detalhada. Não se trata de uma revolução, mas um bom e eficiente passo na direção certa. E, pra começar, está de bom tamanho.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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