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Sinopse

Três anos após a viagem de Búzios, as quatro amigas se encontram no Rio de Janeiro. Estrella acaba de regressar da Argentina, Aninha está indecisa com a consulta de uma vidente, Tita voltou da Europa em busca de um trabalho como fotógrafa, e Mari está trabalhando na produção de um festival de música.

Crítica

Num mercado cada vez mais saturado por comédias televisivas como o brasileiro, causa espanto perceber que foram necessários quatro anos para que essa continuação fosse realizada – neste mesmo tempo, por exemplo, foram produzidos e exibidos dois De Pernas Pro Ar (2010 e 2012) e dois Até Que A Sorte Nos Separe (2012 e 2013). É de se lamentar, no entanto, que este período não tenha sido aproveitado com a construção de um roteiro minimamente pertinente. Afinal, se Muita Calma Nessa Hora (2010) não era mais do que um amontoado de esquetes cômicos ligeiros, esse Muita Calma Nessa Hora 2 nem isso consegue ser. Ou seja, até da pouca graça que o anterior possuía esse agora carece.

Pra quem não viu, Muita Calma Nessa Hora contava a história de quatro amigas em busca de um verão perfeito. Mari (Gianne Albertoni), Aninha (Fernanda Souza), Estrella (Debora Lamm) e Tita (Andréia Horta) fizeram e aconteceram, mas quatro anos depois a situação delas não é muito diferente: a primeira está trabalhando na produção de um mega evento musical ao estilo Rock in Rio, a segunda segue perdida na vida e acreditando em cartomantes enquanto busca o amor ideal, a terceira é a bicho-grilo que volta após um período no interior da Argentina carregando consigo apenas uma Kombi e uma samambaia, e a última desistiu da carreira de fotógrafa em Londres e está mais uma vez na casa dos pais, ao menos até encontrar algo melhor para fazer. Todas, de uma forma ou outra, irão se reencontrar durante o show e... bem, tudo seguirá igual, sem nada de relevante acontecer de fato.

É impressionante, mas Felipe Joffily (diretor do primeiro e também do medíocre E Aí... Comeu?, 2012), ao lado dos roteiristas Lusa Silvestre e Bruno Mazzeo (que também aparece como ator, aumentando o constrangimento), conseguiu fazer um filme sobre o nada. Muita Calma Nessa Hora 2 é apenas uma desculpa para reunir o maior número possível de pseudo-celebridades nacionais no menor espaço de tempo possível (ao menos o castigo dura menos de 90 minutos). Assim, temos Heloísa Perissé numa cena de três minutos, o ex-casseta Hélio de La Peña fazendo diversos personagens que só os mais atentos perceberão as diferenças entre eles, Daniel Filho marcando presença pela enésima vez como o senhor rabugento, os comediantes Paulo Silvino e Marcelo Tas em participações no mínimo constrangedoras, e Lucio Mauro Filho comprovando que tudo que sabe fazer é aquele personagem d’A Grande Família, o mesmo que está disponível semanalmente na televisão. E não vamos falar de Marcelo Adnet ou de Marco Luque para a situação não ficar ainda pior.

Mas o que se salva em Muita Calma Nessa Hora 2? Nelson Freitas e Maria Clara Gueiros repetem os mesmos papeis do primeiro filme, e mesmo sem tanta graça a subtrama que defendem – ele gasta demais ao abrir uma pousada contando com uma herança que acaba não recebendo e fica devendo para mafiosos – ao menos possui um fiapo de enredo que poderá despertar alguma curiosidade nos mais insistentes. E, direto do internético Porta dos Fundos, Rafael Infante – liderando uma banda paródia dos Los Hermanos, os Los Cuñados – parece ser o único realmente preocupado em fazer humor, enquanto que Alexandre Nero atua como se estivesse em um outro filme – até porque ele está, de fato, interpretando, o que ninguém mais em cena parece se preocupar em fazer.

Sem graça, sem história e sem razão de ser, Muita Calma Nessa Hora 2 é um filme perigoso e mal-intencionado, que ludibria a audiência sem oferecer nada em troca. Sua existência é um acidente, pois nem os próprios realizadores acreditavam que o longa anterior contabilizaria mais de um milhão de espectadores, e como isso acabou acontecendo agora temos pela frente essa sequência que em nenhum momento se justifica. E quando, lá pelas tantas, até a Maria Gadú aparece sem que ninguém se importe em esclarecer sua presença, tudo que o espectador deve fazer é lembrar do título do filme e respirar fundo – afinal, já está quase acabando.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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