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Sinopse

Tita, Mari e Aninha são amigas que enfrentam momentos de decisão em suas vidas. Decididas a relaxar, elas partem para curtir um fim de semana em Búzios. No caminho encontram com Estrella, uma hippie a quem dão carona e que está atrás de seu pai desaparecido. Juntas, elas passam por momentos de grande diversão.

Crítica

Uma das piores partes de se apreciar cinema no Brasil é ter que constantemente lutar contra o impulso de reagir violentamente à comparação das nossas produções com as norte-americanas, isso quando não ouvimos verdadeiros disparates como “a gente só fez Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007) que prestam”. Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 (2010) são bons? São ótimos! Cidade de Deus também? Uma obra prima! Mas de bom nós realmente só fizemos isso? Claro que não! Como se pode passar por cima de títulos como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), O Bandido da Luz Vermelha (1968), Lavoura Arcaica (2001) e Estômago (2007), por exemplo? No entanto, fica difícil defender o cinema nacional quando, anualmente, uma pá de comédias de extremo mal gosto são jogadas sobre o caixão que enterra a reputação do nosso mercado cinematográfico; são tantas que não dá nem para acompanhar o fluxo, já que o espectador não tem o dinheiro, o tempo ou mesmo a preparação psicológica para ser atacado mensalmente com esses vexames em 35mm. Dito isso, embora não seja um filme muito bom – não é nem mesmo um bom filme, aliás – ao menos, este Muita Calma Nessa Hora, a exemplo do recente Meu Passado me Condena (2013), não contribui para o embaraço da nossa produção cultural.

Repleto de participações interessantes que em sua maioria superam o cativo exercido pelo elenco principal, o filme conta a história de três amigas que decidem ir passar uns dias em Búzios para “espairecer”, o que obviamente é usado também para propagandear o ponto turístico e suas belezas naturais (afinal o longa tem apoio cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro). Paralelamente, somos apresentados à Estrella (Débora Lamm), uma garota à procura de seu pai desaparecido. Vinda de uma comunidade alternativa e sempre acompanhada de um vaso com uma samambaia plantada por sua mãe já falecida, o que é um belo toque do roteiro, a menina imediatamente se torna uma personagem carismática ao exibir uma aparente ingenuidade social que logo desmascara. Em seguida, as duas tramas se encontram e promessas de quebra de convenções são feitas, com a trama desandando justamente em detrimento destas últimas.

Pra começar, o longa investe em letreiros sem graça que além de apontarem o óbvio – “indecisa: não sabe o que quer” – surgem e são abandonados sem motivos aparentes, dando lugar aos aborrecidos anúncios dentro da narrativa: “faz um 21” é dito e aparece escrito ao menos quatro vezes durante o desenrolar da história, e o próprio título do projeto é mencionado mais de uma vez pelos personagens em um exercício de auto promoção dignos de uma inception. E se uma das protagonistas é traída pelo esposo depois de anos de relação e promete nunca mais se envolver com apenas um homem, eventualmente ela acaba ficando com o galã Juca (Dudu Azevedo), sem contar que Estrella, quando finalmente encontra o seu pai, não pede satisfações do seu sumiço e aceita tranquilamente que o homem tenha abandonado sua mãe com uma criança pequena para cuidar, demonstrando que apesar do discurso liberal proferido por nossas protagonistas, no fim, elas são as mesmas donzelas decepcionantes que dependem de homens que salvem suas vidas.

Aqui e ali há um bom momento, e repito, muitos deles devido as participações especiais. Enquanto Marcelo Adnet e Lúcio Mauro Filho irritam com suas composições dignas do humorístico Zorra Total (1999-2015) mesmo em suas curtas aparições, Laura Cardoso e Maria Clara Gueiros praticamente roubam o filme quando surgem em tela: “ué, a pé dá pra ir até o Piauí” diz esta última, naquele que é o momento mais inspirado do roteiro. Mas quando uma piada que é apenas boa representa o ponto alto de um longa-metragem, o que se pode dizer do resto? Só pra complementar e dizer que não passou despercebido, o diretor Felipe Joffily claramente tenta diferenciar sua fotografia ao investir em uma baixa profundidade de campo, em câmeras de mão e vez em quando lentes grandes angulares, mas perde pontos quando retrata uma cena de sexo na praia da maneira mais óbvia e tediosa possível, com closes em partes nuas dos corpos dos atores ao som de uma música dramática. Se estivéssemos nos anos 1950, seria ao menos ousado, e, mesmo assim, poderíamos dizer que A Um Passo da Eternidade (1953) fez muito melhor. Mas não estamos, e a cena com Burt Lancaster e Deborah Kerr segue ainda inesquecível.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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