Crítica

Com orçamento na casa dos US$ 500 mil, número que fica muito longe até mesmo daquilo que é gasto em projetos considerados de baixo custo em Hollywood, Monstros é uma prova de que é possível fazer um belo filme de monstro tendo em mãos uma produção bastante modesta. Na verdade, esta estreia do britânico Gareth Edwards como diretor não faz feio se comparada a obras recentes como Cloverfield (2008), o que torna ainda mais surpreendente que tão pouco dinheiro tenha sido gasto em sua realização.

Escrito pelo próprio Gareth Edwards, Monstros se passa seis anos após a NASA ter confirmado a possibilidade de haver vida extraterrestre. Pouco tempo depois disso, uma área no México foi classificada como “zona infectada”, já que vários seres alienígenas começaram a aparecer por ali, e tantos os americanos quanto os mexicanos estão fazendo de tudo para contê-los. Nesse contexto, o fotógrafo Andrew Kaulder (Scoot McNairy) vai até o México a pedido de seu chefe, com a tarefa de encontrar a filha dele, Samantha (Whitney Able), e trazê-la a salvo para casa. No entanto, a viagem se revela mais longa do que eles esperavam.

Algo que chama a atenção no que Gareth Edwards faz em Monstros é o fato de não haver grande pânico nas ruas como é normal de se ver nesse tipo de filme. Aqui, as pessoas aparecem tentando viver suas vidas normalmente, mesmo sabendo que alienígenas estão por perto. Aliás, o fato do roteiro contar com o retorno dos protagonistas para casa como fio condutor da narrativa e colocar uma série de obstáculos no caminho deles acaba sendo uma ótima maneira de desenvolver o ambiente no qual a história acontece. Assim, Andrew e Sam são obrigados a passar por vários lugares na tentativa de cumprir seu objetivo. Além disso, não deixa de ser um pouco irônico termos dois americanos tentando cruzar a fronteira entre os dois países ilegalmente, considerando que vários mexicanos fazem o mesmo da mesma forma todo ano.

Ao mesmo tempo, o diretor constrói um ótimo clima de desconforto em cima desses contratempos que os personagens encontram. O curioso é que ele alcança isso quase sem mostrar as criaturas, usando com inteligência o detalhe de todos saberem que eles podem surgir a qualquer momento. No entanto, quando os alienígenas dão as caras, o resultado são cenas incrivelmente tensas, como o ataque a um grupo de soldados logo no início da trama, ou a sequência no terceiro ato que se passa em um posto de gasolina. E apesar de os efeitos visuais criados pelo próprio Edwards para a concepção das criaturas serem um tanto baratos, ao menos o diretor faz com que esse quesito funcione na maior parte do tempo, o que se deve também ao fato dele filmar geralmente à noite, disfarçando sua ocasional artificialidade.

No entanto, talvez o filme não tivesse tanto impacto caso seus protagonistas não fossem figuras com as quais pudéssemos nos identificar. Por sorte, Gareth Edwards dedica boa parte do roteiro desenvolvendo Andrew e Sam, cada um dono de dramas pessoais com os quais conseguimos simpatizar, o que nos faz torcer para que cheguem vivos em casa. Scoot McNairy e Whitney Able se revelam boas surpresas, trazendo peso dramático para os personagens e com uma ótima química em cena.

Com o sucesso alcançado em Monstros, Gareth Edwards recebeu um desafio: comandar o novo filme de Godzilla, um monstro clássico do cinema. E será realmente interessante se ele conseguir manter na nova empreitada o mesmo nível que mostrou nesta bela estreia.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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