Crítica


5

Leitores


7 votos 8.8

Onde Assistir

Sinopse

Treinando diariamente desde a pré-adolescência para conseguir alcançar o topo do futebol feminino, um grupo de jogadoras passa por um momento inédito quando ganha um campeonato masculino disputado por times da elite brasileira como Corinthians e São Paulo. Depois de serem reveladas para o Brasil, chega a hora de finalmente brilhar.

Crítica

O futebol é um reduto tradicionalmente masculino. Mais que isso. Machista. Portanto, a entrada de mulheres na modalidade é um movimento de resistência. Minas do Futebol se apresenta como uma espécie de sumário de questões extremamente importantes acerca dessa quebra de paradigmas. Não aprofunda qualquer dado e/ou prisma, mas consegue montar um painel conciso e eficiente das dificuldades pelas quais as meninas passam desde a mais tenra idade, isso quando decidem optar pela carreira nas quatro linhas. Em princípio, parece que o longa-metragem vai se ancorar na incrível história de um time de garotas que, não tendo rivais da mesma idade, entram num campeonato jogado por garotos, do qual saem vitoriosas. Todavia, essa pincelada é acrescida de outras do decurso, com o intuito principal de mostrar a energia dispendida para que a modalidade seja destituída de preconceitos e que se mantenha aberta aos esportistas, independentemente de seus gêneros.

Minas do Futebol carece de foco e incisão. Investigando o fenômeno do futebol feminino por diversos ângulos, exatamente a fim de tornar o documentário multifacetado, o cineasta Yugo Hattori acaba atentando pouco a certas potencialidades, tais como o diálogo com os pais. Constantemente, genitores são ouvidos a respeito das filhas que desejam ser profissionais no esporte, mas apenas um depoimento deles agrega genuinamente, para além das colocações banais. Um homem fala de sua ojeriza inicial diante da ideia de ver sua “princesa” num jogo abrutalhado, pretensamente mais indicado aos meninos. Para não frustrar a pequena, pensou em coloca-la numa escolinha rígida, intentando desencoraja-la por meio da rotina de cobranças acirradas. Não apenas ela segurou totalmente a bronca, como teve força suficiente para alterar a dinâmica do local, contribuindo para a sua melhora. São exatamente esses mergulhos que faltam ao restante da trama oscilante do filme.

De toda maneira, Minas do Futebol toca em temas cujas pertinências enriquecem. Uma delas, a cadeia de motivos que levam homens a se acostumarem precocemente com o futebol e, no sentido contrário, a prematura desvantagem feminina. O realizador confere espaço para que as jogadoras mirins se expressem. E elas se abrem à câmera, mencionando os contratempos, a importância do apoio familiar na trajetória pedregosa nesse meio, a exigência de treinar e jogar com meninos por absoluta falta de alternativa, bem como discorrem acerca de aspirações e sonhos. Alguns desses instantes são ilustrados com uma animação simples, mas que são um bem-vindo ar lúdico aos relatos, afinal de contas estamos diante de esportistas prestes a sair da infância e adentrar na adolescência. Não fosse a inconsistência, especialmente nos momentos-chave, o longa poderia lograr ainda mais êxito ao descortinar uma realidade dura, repleta de empecilhos e entraves.

Como índice de temas expressivos, Minas do Futebol é um bom pontapé inicial. A forma como negligencia possibilidades enfraquece o resultado, embora não retire dele a relevância enquanto gatilho. Yugo Hattori não atenta para consideráveis desvios, como a, primeiramente, inexplicável confusão entre clubes. Uma hora as meninas aparecem treinando pelo A.D. Centro Olímpico, já em outras surgem defendendo as cores do São Paulo. Somente perto do fim é nos dado o contexto desse intercâmbio, uma aposta duvidosa que gera ruídos dispensáveis e, no fim das contas, danosos. Em meio a essas fragilidades puramente cinematográfica, porém, prevalece o carisma das protagonistas, dessas meninas que jogam muito. Elas têm de provar diariamente que podem superar em técnica os meninos. O diretor perde a oportunidade de abrir o escopo da discussão, fazendo de seu objeto de estudo o indício de uma configuração social maior. Mesmo assim, o filme tem seu charme.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *