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Sinopse

Harriet Vanger, desapareceu misteriosamente na ilha em que vivia com sua rica família quarenta anos atrás. O tio da moça, o industrial Henrik Vanger, acredita que ela foi assassinada, e que o assassino é um dos parentes. É quando contrata o jornalista Mikael Blomkvist para investigar o caso. Este tem como assistente Lisbeth Salander, uma jovem tatuada e cheia de piercings que é especialista em computadores. As investigações levam os dois a descobrir uma rede de assassinatos grotescos e acabam revelando o lado mais sombrio e aterrador daquela família.

Crítica

Suécia, norte do país, inverno, 1964. Num ilha que se liga ao continente apenas por uma ponte, que na ocasião específica estava interditada, uma garota some. Todos os familiares, únicos habitantes do lugar, são suspeitos do assassinato, mas como o corpo nunca chegou a ser descoberto, o mistério permanece por quase quarenta anos. Seu nome era Harriet Vanger, e este sobrenome é – e era – um dos mais poderosos do continente. Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres começa com o último esforço para solucionar o caso, quando o tio da jovem, Henrik, decide contratar o influente jornalista Mikael Blomkvist, especialista em investigações. Mas o que o levaria a aceitar essa proposta tão longe da capital e do seu trabalho na revista Millennium, fundada por ele mesmo e pela amante? O fato de se encontrar, no momento em que é contatado, em desgraça, após a condenação por infâmia por uma matéria que escreveu contra um conhecido empresário. Para ele, portanto, pode ser uma boa sair de cena e ocupar a cabeça com outros problemas. Ao seu lado estará Lisbeth Salander, uma hacker de poucos amigos mas muito competente, que mais parece uma menina, mas que se revela uma mulher e tanto, tornando-se, aos poucos, parceira tanto de trabalho quanto de cama.

Essa trama aparentemente intrincada, mas absurdamente bem construída, é apenas o início da versão hollywoodiana do primeiro livro de uma trilogia que já vendeu mais de 50 milhões de livros em todo o mundo e que fora adaptada tanto para a tela grande (numa excelente e bem sucedida produção sueca chamada simplesmente Os Homens que não Amavam as Mulheres, 2009) quanto numa minissérie para a televisão europeia (Millennium, 2010). Então, porque transformar novamente esse material em cinema? A resposta pode se dar num único nome: David Fincher. O que justifica a existência desse longa é o interesse e a dedicação de um dos cineastas mais relevantes do atual cenário norte-americano, responsável por trabalhos tão impactantes quanto Clube da Luta (1999), O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) e A Rede Social (2011). E o mais impressionante é que, a despeito das qualidades da adaptação anterior, ele consegue aqui fazer um filme ainda digno de atenção e que justifica a curiosidade despertada.

Fincher foi também bastante cuidadoso em escolher os nomes que comporiam o seu elenco. Afinal, os protagonistas anteriores se deram tão bem que hoje atuam com sucesso na mesma Hollywood que ele e seus eleitos. Daniel Craig, após deslizes recentes como Cowboys & Aliens (2011) e A Casa dos Sonhos (2011), está perfeito como Mikael Blomkvist, o homem forte num momento frágil que tem pela frente um desafio e tanto e que, para isso, aceita a ajuda de uma desconhecida tão atraente quanto repulsiva. Rooney Mara, a novata que conseguiu um dos papéis mais disputados dos últimos tempos, responde à altura, e apenas as indicações que conseguiu ao Oscar e ao Globo de Ouro já servem como resposta sobre seus méritos. Os demais coadjuvantes, entre eles Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, Joely Richardson e Robin Wright, estão igualmente adequados, todos envoltos em uma ambientação fria e distante, reproduzindo à perfeição o clima gélido e exótico percebido no material literário.

Mas Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres é mais do que bons atores, uma equipe técnica competente e uma trama envolvente. É também uma aposta arriscada, pois expõe no cinema americano, num intervalo mínimo de apenas dois anos, uma proposta que já havia sido levada às telas com grande sucesso. Sinal da falta de criatividade na meca da sétima arte ou simplesmente uma vontade exarcebada em propor um novo olhar sobre uma mesma criação. Como exercício se sustenta – foram mais de US$ 230 milhões arrecadados nas bilheterias de todo o mundo, além de 5 indicações ao Oscar, entre outros reconhecimentos – mas será de fato válido? Indubitavelmente trata-se de um filme acima da média, mas já não o era o longa original? E é justamente por isso que deixa de ser indispensável. É, de fato, muito bom, mas nada original. Num universo em que a quantidade de ofertas se torna cada vez maior, investir no mesmo parece ser uma perda de tempo. Por melhor que sejam os resultados finais, independente de qualquer comparação.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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