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Sinopse

Escritor em busca de fama, Gil está de férias em Paris com sua noiva. À noite, ele sai sozinho para explorar os encantos da Cidade Luz e conhece um grupo de estranhos. Na verdade, eles são grandes nomes das artes da década de 1920 e Gil percebe que tem a oportunidade de literalmente viajar no tempo para curtir.

Crítica

É de praxe dizer que Woody Allen, mesmo quando erra, acerta. Afinal, qualquer produção do diretor novaiorquino estaria acima da média hollywoodiana. Mas é ainda mais especial quando ele, de fato, acerta. E esse é o caso de Meia-Noite em Paris, um dos seus melhores trabalhos em muito tempo. Desde que começou a se aventurar pela Europa – com Match Point, em 2005 – já passou pela Inglaterra e pela Espanha. Faltava mesmo um retorno à França, lugar em que esteve por alguns belos instantes no musical Todos Dizem Eu Te Amo (1996). E esse novo passeio pela capital francesa não poderia ser mais triunfal do que o que agora temos o prazer e o deleite de presenciar.

Quando não atua, Allen costuma indicar substitutos para tomar seu lugar à frente do elenco. Assim foi com Kenneth Branagh em Celebridades (1998), com Jason Biggs em Igual a Tudo na Vida (2003) ou em Larry David em Tudo pode dar Certo (2009). E esse processo mais uma vez se repete com Owen Wilson, que parece ter incorporado o lado trapalhão, inseguro e desastrado do diretor enquanto ator. Ele aparece como um jovem roteirista indeciso sobre a própria vida. Em férias por Paris com a namorada e os sogros, tem um vislumbre de tudo o que sempre desejou: uma vida menos compromissada, menos frenética, menos atribulada. Isso, por outro lado, é o oposto do que sua garota (Rachel McAdams) imagina para eles. Na visão dela, eles estão ali apenas para os preparativos para o casamento, e devem voltar logo para Los Angeles. Lá ele pode servir também como porta de entrada para o brilho e glamour de Hollywood, onde trabalha como roteirista de uma seriado televisivo de relativo sucesso.

Os anseios dele ficam ainda mais evidentes quando duas coisas acontecem: primeiro ele é confrontado com um casal de amigos que representam tudo o que ele vai contra: futilidade, prepotência, arrogância, esnobismo. Cansado do encontro à quatro, deixa a mulher e os conhecidos e decide caminhar sozinho pela noite parisiense. É quando algo mágico acontece, e ao aceitar uma carona de um desconhecido acaba sendo transportado para os anos 20, época que de acordo com a visão dele representaria o período de ouro de Paris. Ali poderia levar uma vida de cafés e cabarés ao lado de gênios artísticos como Cole Porter, Ernest Hemingway, Zelda e F. Scott Fitzgerald, Josephine Baker, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dali, Man Ray, T. S. Eliot e Luis Buñuel, entre outros. Como retornar a sua vida medíocre após uma série de encontros como esses?

Acompanhar o protagonista se deparando com cada um destas personalidades representa alguns dos melhores momentos de Meia-Noite em Paris. Mas se o lado cômico é forte o suficiente para deixar a sessão leve e divertida, o processo todo fica ainda melhor ao percebermos que estamos diante um filme de camadas, e quem desejar se aprofundar irá encontrar referências ricas e imaginativas, presentes criados pelo cineasta para recompensar os espectadores mais curiosos e interessados. Além, é claro, da importante reflexão levantada pelo enredo: a grama do vizinho é sempre mais verde? Ou seja, sempre o melhor é o que desejamos e não temos como obter? E, uma vez atingidos nossos objetivos, iremos nos satisfazer ou começaremos a ter outros desejos e inquietações? Com diálogos inteligentes e um time de atores em perfeito estado, esse é desde já um dos destaques da temporada, e um filme que certamente irá perdurar em nossas memórias por um bom tempo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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