Crítica

O primeiro filme exibido aqui em Gramado na mostra competitiva latina comprovou o talento dos hermanos argentinos em contar histórias comoventes e, acima de tudo, humanas. Medianeras é um trabalho que envolve pela simplicidade e pelo bom trabalho dos intérpretes. Javier Drolas e Pilar López de Ayala são dois novos talentos argentinos que em breve deverão conquistar um espaço maior internacionalmente. Aqui, eles aparecem como um improvável casal que tem tudo para ficar junto, porém estão separados pelo maior mal da modernidade: a tecnologia. Uma situação curiosa e poética que é tratada com bastante carinho pelo diretor Gustavo Taretto, que adapta para o formato longa seu terceiro curta-metragem, produção essa que recebeu mais de 40 prêmios ao redor do mundo.

Ele é um webdesigner que desde que a ex-namorada o deixou para ir morar nos Estados Unidos nunca mais teve um relacionamento firme. Ela é uma arquiteta que trabalha como vitrinista que está voltando a morar sozinha após um casamento de quatro anos. Os dois são vizinhos, foram feitos um para o outro, porém não se conhecem. Estão separados pela informática, pelas facilidades do dia a dia, pelos avanços modernos que, ao invés de nos aproximar, terminam por nos isolar mais e mais, formando uma nação única de seres solitários. O que o filme pergunta, no entanto, é se o acaso não pode ser mais forte quando o universo passa a conspirar a favor.

 Medianeras é uma obra que conquista pela simplicidade e obtém admiração pela forma direta e objetiva que trabalha os conceitos explorados. Por mais fóbicos e acomodades que o ser humano esteja, podemos realmente viver longes um do outro? Tudo não se torna melhor quando ao lado da companhia certa? A personagem, a certo momento, chega a perguntar: “se nem quem eu procuro consigo achar, como irei encontrar quem é certo para mim se nem sei por onde começar?” Talvez o segredo seja justamente esse: não sair atrás e simplesmente se deixar levar pelo destino.

A cidade que os coloca juntos é a mesma que os separa”, anuncia a frase de apoio no cartaz de Medianeras. Se o começo é extremamente interessante – como se fosse um curta-metragem à parte – o resto do filme é que por fim justifica nosso envolvimento. Quando os personagens surgem tudo se torna mais real, mas colorido, mas vivo. Se o longa peca em alguns momentos, como algumas histórias paralelas que não se desenvolvem a contento e ou na conclusão, que apesar de simpática poderia ser mais enxuta, ao menos temos uma comédia romântica que equilibra na mesma medida o tom dramático do exagero argentino com a comicidade dos relacionamentos atuais, tão passageiros quando empolgantes. É, em última instância, uma história que já foi vista milhares de vezes antes, mas que, quando bem feita, sempre entretém. E é este o caso também aqui.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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