Crítica


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Sinopse

Duas amigas foram vítimas de abusos na infância. Algum tempo depois, elas saem à caça dos seus algozes, pensando em fazê-los passar por algo terrível.

Crítica

Os longas A Invasora (2007) e Martyrs (2008) iniciaram na França uma onda de filmes de horror que têm como sua força motriz a violência explícita – o “movimento” chegou até mesmo a ganhar um nome: New French Extremity. Como qualquer relativo sucesso estrangeiro a sua língua, Hollywood não poderia deixar de repaginar também uma dessas obras. E é inegável que esse novo Martyrs mantém a proposta central daqueles projetos, esquecendo-se, porém, de que sangue por sangue não é um elemento especialmente cativante.

Pior do que isso, a versão norte-americana parece entender que para criar uma atmosfera opressora, é preciso preencher cada segundo de exibição com elementos atordoantes. A trilha incessante é feita de acordes pesados, metais graves e violinos melancólicos que forçam com as duas mãos, e às vezes na base do sopro, o espectador para um cantinho, para que fique ali encolhido. Embora a câmera dos irmãos Kevin e Michael Goetz não fique muito atrás, e com seus closes fechadíssimos e sacolejadas infindáveis, tentam trazer um tom sufocante e de urgência para a narrativa. Entretanto, o que esses elementos somados conseguem é provocar uma constante angústia involuntária, já que é impossível simpatizar com personagens em quem raramente conseguimos deitar o olho no rosto por mais do que alguns segundos.

Além disso, os Goetz demonstram uma pressa injustificada para contar sua história, pulando de um evento para outro sem permitir que eles estabeleçam suas funções antes, claramente ansiosos pra chegar logo na carnificina. Mais ou menos assim: a trama gira em torno de Lucie (Troian Bellisario), que quando menina foi sequestrada e torturada... No convento para onde foi levada pela polícia, ela conhece Anna (Bailey Noble na versão adulta), uma amiga que... Quando adulta ela encontra seus sequestradores, invade sua casa e os mata, deixando ela e Anna no meio da... São surpreendidas por uma seita que as encurrala dentro da casa, forçando Lucie a reviver seu pesadelo de infância enquanto a amiga tenta tira-las de lá. Difícil né? Nem vale a pena citar as atrizes mirins que vivem a dupla quando crianças, pois Kevin e Michael simplesmente não permitem que suas feições fiquem em tela tempo suficiente.

Sem contar a tentativa pífia dos cineastas de tentar contrastar os dois tempos (sim, dois, já que o filme constantemente pula para flashbacks das meninas que aprofundam a história um total de zero por cento) com uma paleta clichê de fotografia: sépia no passado e dessaturada no presente. Mas como não usam essas pausas para nada, o que conseguem é imprimir uma identidade confusa que não serve em nada ao projeto. Por outro lado, a violência está lá e é bem executada. Comedida perto da sanguinolência da versão original, mas presente. E em certo ponto até mesmo a tensão dá as caras, quando Anna descobre o cativeiro das vítimas, como Lucie uma vez foi. O momento em que a protagonista executa seu plano de vingança também é eficiente, e culmina em um quadro inteligente em plongée absoluto (visto de cima pra baixo), que contrasta as plumas de um colchão destruído com uma poça de sangue que passa a se formar sob ele.

Mas são respiros de lucidez em uma produção que ainda inclui um espírito maligno que some da trama tão rápido quanto surge – talvez o intuito fosse revolucionar o termo “aparição”, será? Desperdiçando assim um conceito interessante e inúmeras ideias para gerar suspense por sua ânsia de chegar ao grafismo, os Goetz se desentendem que personagens, por mais mutilados que estejam, não geram torcida se não são aprofundados antes, o que faz de Martyrs uma experiência tão cheia de si, que soa ironicamente vazia quando chega aos créditos finais.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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