Crítica

Morgan Spurlock ainda é reconhecido como o cara que desafiou o McDonald’s com o documentário indicado ao Oscar Super Size Me – A Dieta do Palhaço (2004). Nada estranho, uma vez que seu filme foi o responsável pela inclusão de opções saudáveis no cardápio da rede de fast food e provou os malefícios causados por uma dieta à base de hambúrgueres e batatas-fritas. Desde então, Spurlock segue uma fórmula dinâmica e ousada para atrair espectadores para suas produções, e seus temas não poderiam ser mais diversos – Osama Bin Laden, a economia norte-americana, a publicidade nos filmes e a feira de quadrinhos Comic-Con renderam histórias para alguns de seus longas. Bigodes, pelos e homens preocupados com o visual também.

Mansome explora o crescente universo da metrossexualidade, termo que já caiu em desuso, mas ainda motiva companhias a desenvolverem uma série de produtos voltados ao homem contemporâneo. Já muito explorado e criticado por inúmeras outras mídias, o metrossexual apresentado no documentário de Spurlock é aquele caricato, que tem nos cuidados com a aparência o escape para uma vaidade excessiva. Os seus principais entrevistados são passíveis de ridicularização – como Ricky Manchanda, obcecado por cuidados estéticos, e Jack Passion, campeão mundial de barba natural. Os atores Jason Bateman e Will Arnett, que produzem o filme, tornam a caricaturização do metrossexual ainda pior, uma vez que participam do documentário opinando sobre o assunto (com um humor bastante questionável) enquanto desfrutam dos benefícios de um spa para homens.

Seguindo a fórmula que usou em Comic-Con Episode IV: A Fan's Hope (2011), Spurlock se debruça sobre alguns personagens principais e pincela a opinião de outros para dar maior dinâmica ao documentário. Alguns entrevistados fornecem opiniões muito interessantes, como Adam Garona, fundador do Movember – movimento para a prevenção do câncer de próstata – mas outros são inteiramente descartáveis, como o lutador Shawn Daivari, que aparece quase que exclusivamente para falar – e demonstrar – como depila todos os pelos do corpo. Entre barbeiros e antropólogos, Spurlock ainda consegue espaço para aparecer em seu documentário. Quem acusa o cineasta de ser narcisista e egocêntrico não ficará feliz em saber que sua participação se resume a se barbear frente às câmeras.

Mansome, ainda que bem intencionado em seu propósito, não vai muito além de uma matéria digna de Fantástico, interessante para o final de um domingo. Spurlock, que já demonstrou ser um bom documentarista, talvez deva apenas ser mais feliz na escolha de seus temas – e se preocupar menos com a aparência de seus filmes.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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