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Sinopse

Linda Lovelace se tornou famosa ao protagonizar o filme pornográfico Garganta Profunda. Ela teve relacionamentos conturbados com seus dois maridos, Chuck Traynor e Larry Marchiano, e precisou aprender a lidar com a fama.

Crítica

Linda Susan Boreman pode não ser um nome conhecido para muitos, mas sua alcunha, Linda Lovelace marcou época nos anos 1970 e nas gerações posteriores, especialmente no ramo pornográfico, por conta do icônico Garganta Profunda (1972), filme do gênero que arrecadou em todo mundo 600 milhões de dólares. Com uma curta carreira, Linda teve uma vida pessoal conturbada e é este retrato que está pincelado em Lovelace, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, com Amanda Seyfried no papel principal.

Narrado de forma não-linear, o longa acompanha Linda já adulta. Aos 21 anos, antes de se tornar uma estrela pornográfica, a jovem vivia com os pais conservadores (Robert Patrick e uma irreconhecível Sharon Stone), não podia ficar até tarde na rua, era educada para obedecer ao marido e o principal e, neste contexto, ainda tinha um agravante: havia engravidado já no começo de sua vida sexual. Com sua situação dentro de casa, o bebê acabou sendo enviado para adoção. Numa de suas (poucas) saídas com a melhor amiga, Patsy (Juno Temple), Linda conhece Chuck Traynor (Peter Sarsgaard), um homem mais velho por quem se apaixona e logo vai morar com ele. Mal a garota sabia que o rapaz trabalha com prostituição e tráfico de drogas e que ia obriga-la, por meio de violência doméstica, a também fazer parte do ramo.

Foi Chuck que descobriu o “talento” (se assim podemos dizer) de Linda no sexo oral, o que o fez perceber a mina de ouro que tinha em casa e a lançou para produtores da indústria pornográfica. Apesar da rejeição inicial – afinal, Linda era a legítima “girl next door”, uma garota comum, bela, mas sem grandes atributos físicos -, logo ela caiu nas graças dos investidores e, consequentemente, do público, que a adorava e, ao contrário do que se poderia imaginar, respeitava a garota.

O roteiro de Andy Bellin é focado na vida de Linda, do casamento ao início de sua carreira, passando pelas constantes brigas domésticas até sua “redenção” e lançamento da autobiografia. Porém, nem por isso se perde em um ou outro elemento. Ao mesmo tempo em que o público tem uma ideia de como funciona(va) o mundo do ramo cinematográfico e todas suas tramas, brigas de ego e jogadas de risco, em paralelo há um forte discurso contra a violência sexual e doméstica contra as mulheres. Se tivesse sido feito no Brasil poderia ser um bom garoto propaganda da Lei Maria da Penha. As cenas em que Linda é espancada, estuprada, violentada não apenas física, mas também moralmente, podem soar pesadas, mas são uma boa forma de mostrar o porquê da luta da ex-atriz contra o ramo que a lançou ao estrelato e, especialmente, sua batalha contra maridos violentos.

Neste contexto, as atuações elevam a qualidade do filme. Amanda Seyfried, apesar de algumas semelhanças quanto à personalidade dócil de Linda, tem em mãos – e aproveita – o grande papel de sua carreira, entregando uma performance digna de premiações. Seu marido na tela, Peter Sarsgaard, também consegue ser sutil mesmo com um personagem tão bruto. A montagem do longa ajuda nesta percepção, já que até a metade da projeção pouco de sua personalidade agressiva é mostrada, nos deixando em dúvida sobre o que se passava em sua cabeça. Isto até, é claro, com a ajuda de flashbacks, ser mostrado o que acontecia entre quatro paredes. Ainda vale ressaltar o trabalho do restante do elenco, recheado de participações especiais de peso, como Chris Noth (o Mr. Big de Sex and The City, 2008), Hank AzariaJames Franco, Chlöe Sevigny e, especialmente, a mãe fervorosa vivida por Sharon Stone, envelhecida com uma maquiagem de surpreender qualquer um.

Porém, a sensação ao fim de Lovelace é que faltou algo. Talvez porque o filme inteiro é colocado sob a ótica de sua protagonista, o que pode levar o público a pensar o que pode ter sido floreado ou exagerado na narrativa. Ainda assim, é uma bela produção sobre o retrato de uma época, dos bastidores da pornografia e, principalmente, sobre a revolução sexual e profissional das mulheres, sempre relegadas a segundo plano, mesmo nos dias de hoje.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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