Louca Escapada
Crítica
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Sinopse
Uma mulher tenta reunir sua família ajudando seu marido a escapar da prisão enquanto, no caminho, sequestra o próprio filho. Porém, nem tudo sai como o planejado.
Crítica
Ninguém seria tão irresponsável ao ponto de escapar de uma estação de pré-soltura quatro meses antes de completar a pena. Clovis Poplin (William Atherton) foi, levado pela chantagem da esposa, Lou Jean Poplin (Goldie Hawn), recém-liberta da prisão. O casal quer reaver a guarda do filho, concedida a pessoas desconhecidas em virtude da ficha criminal de ambos. Louca Escapada é dirigido por Steven Spielberg, ele que três anos antes havia mostrado inclinação por narrativas de estrada, com Encurralado (1971). Entretanto, diferentemente do anterior, neste filme não há muito vigor na perseguição. Clovis e Lou Jean infringem uma série de leis até extrapolarem, por raptar um patrulheiro. Eles viram alvo da atenção da polícia e dos moradores das cidades pelas quais passam a caminho da casa dos pais adotivos do menino. O capitão Tanner (Ben Johnson) se incumbe de chefiar os guardas e evitar problemas.
Baseado em fatos, Louca Escapada é mais focado na singularidade do casal principal do que em outra coisa. Ao invés de apostar na construção de uma atmosfera tensa, Spielberg prefere a leveza, principalmente para ressaltar a inconsequência quase infantil do homem e da mulher armados que mobilizam um contingente considerável de policiais. O único momento em que o diretor ensaia dar relevo a algum subtexto é quando três caçadores - incluindo um adolescente – resolvem abrir fogo contra os já famosos sequestradores. O close no adesivo do carro deles, com dizeres que aludem à paranoia anticomunista, seguido da facilidade de, primeiro, transitar com armas pesadas e, segundo, de usá-las sem temer punição, é suficiente para delinear o cidadão norte-americano conservador, o autoproclamado “de bem”. Infelizmente esse tipo de expediente, que enriquece o todo, para por aí, ou surge adiante com variações de efeitos muito tímidos.
A trama segue no ritmo do deslocamento dos protagonistas. O capitão Tanner desenvolve certa simpatia por eles, sobretudo pela histriônica e carismática Lou Jean. Não há investigação mais detida no comportamento do casal, nem mesmo no dos demais personagens. Maxwell Slide (Michael Sacks), o patrulheiro que os acompanha a contragosto, adquire uma importância além do que sua mera condição pressupõe apenas quando passa a externar afeição por eles, chegando ao ponto de antecipar movimentos dos colegas, pois preocupado com a integridade física dos Poplin. Louca Escapada possuiu um desenvolvimento morno, quase estacionado. Clovis e Lou Jeane são ironicamente celebrados como heróis, exemplo de pais que fariam qualquer coisa pelo filho. Contudo, isso, assim como também o potencial da insistência e do sensacionalismo da mídia, não é bem aproveitado por Spielberg.
Louca Escapada está longe de ser um filme descartável, mas certamente é aquém da capacidade de um cineasta que já havia mostrado talento para contar histórias cinematograficamente. Os instantes de humor (pálidos) dos quais o roteiro se vale, como, por exemplo, a disposição de um banheiro químico para a delinquente apertada, entre outros, ajudam a deflagrar a intenção de não sublinhar os possíveis lados obscuros. Essa atmosfera levemente pasteurizada faz com que a emoção permaneça no raso, até mesmo nas ocasiões em que a tragédia se insinua como única resultante possível da empreitada insensata do casal protagonista. Desenvolvemos empatia pelos personagens, torcemos para que tudo dê mais ou menos certo, mas o desfecho, assim como o caminho percorrido até ali, não dão muitos subsídios à permanência na memória, a não ser pela destacada interpretação de Goldie Hawn.
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