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Sinopse

Um dos fundador da banda Mutantes, Arnaldo Baptista tem sua vida remontada por depoimentos de artistas e personalidades que atravessaram sua existência. O resultado é a revelação desse nome maiúsculo da música.

Crítica

Quem é mais louco? Nós ou Van Gogh? O questionamento de Sérgio Dias é um entre tantos profundos e arrebatadores trechos do ótimo Loki: Arnaldo Baptista, a cinebiografia do irmão dele e líder dos Mutantes. Arnaldo Baptista é um genial artista do rock nacional, integrante do tropicalismo, foi casado com Rita Lee e, por muito pouco, não morreu esquecido e abandonado. O documentário vai fundo nas fases, experiências, tristezas, ideias, criações, alucinações, destruições, angústias e nas mulheres que conviveram ao lado de Arnaldo. Músicos, artistas, amigos, escancaram com altas doses de sinceridade, admiração, respeito e carinho a enorme importância do músico e sua insuperável contribuição á música brasileira.

É impossível reagir com indiferença ou não deixar de se envolver com a profundidade, a sensibilidade impregnada na atmosfera que envolve a música e a vida de Arnaldo. Surpreende como ele conseguiu se erguer das quedas que a vida foi lhe proporcionando. É preciso fôlego para a sessão, além de um coração duro para não se deixar envolver no testemunho de uma vida intensa, dilacerada por um rompimento inesperado que levou o artista a perder sua identidade e seu porto seguro. Provavelmente, Rita Lee não quis participar do filme. Fiquei com muita vontade de ouvi-la. É possível entender alguns motivos desta ausência. Mas isso não diminuiu seu papel na banda ou no próprio filme. Pelo contrário, a presença dela é intensa do início ao fim. O grau de revelação e superação que Arnaldo Baptista e o diretor Paulo Henrique Fontenelle atingem com Loki é de uma obra definitiva. O farto material de arquivo mostra, entre outros grandes momentos, um festival da canção que reúne uma apresentação de Gilberto Gil com os Mutantes. Uma combinação inusitada e empolgante.

Esse tem sido o ano dos documentários musicais. Temos tido, praticamente, um novo lançamento por final de semana. O recente sucesso de Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009) foi prova de boa intenção e coragem na direção. Loki é um mergulho ainda mais profundo, está além de um documentário musical. Há música, sim, e das boas. Afinal, os Mutantes são os pesos-pesados de qualquer lista Top do cenário musical brasileiro. Talvez os fãs da banda até quisessem mais sonoridades do que as presentes no filme. Acontece que a essência da obra está além da música. O diretor mergulhou na franqueza dos testemunhos e apresentou com franqueza os episódios. Ainda contou com o próprio Arnaldo para conduzir o filme. Ele mostra todos os seus lados, suas dores, seus amores, suas perdas e sua incrível superação, através da pintura de uma tela que representa as fases da sua existência.

Poderia ser triste demais. Mas não é. Talvez porque não tenham sido feito concessões. Arnaldo demonstra sua simpatia, suas invenções que o conduzem além da melancolia e da dor. E olha que há bastante sofrimento em Loki. Está ali um ser humano, por vezes frágil, pendurado num abismo. Reerguido pelo amor incondicional de uma ex-fã. Sua grande salvadora e atual esposa. Kurt Cobain, Julian Lennon e Devendra Banhart confessam admiração, em seus depoimentos, ao Mutante. Mas o momento de maior valorização acontece na apresentação na Inglaterra. O concerto que comemorou a volta da banda, com Zélia Duncam nos vocais, é uma celebração inesquecível. Emociona e muito. A impressão é que o filme reuniu tudo possível em suas duas horas e meia. Que a vida toda de Arnaldo está lá. Quem sabe não esteja mesmo. Um dos melhores filmes do ano.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.

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