Life, Animated
Crítica
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Sinopse
Owen Suskind, um menino autista que ficou sem falar por anos, é retirado aos poucos de sua solidão ao ser imerso em filmes animados da Disney. Toda a família se tornou personagens animados, se comunicando com Owen a partir de diálogos dos filmes e canções, até que ele se reconecta com a sua amorosa família, revelando que, em tempos mais difíceis, todos precisam de histórias para sobreviver.
Crítica
Ganhador do Oscar em 2010 por seu documentário em curta Music by Prudence (2010), o diretor Roger Ross Williams retorna à festa da Academia com mais um doc, desta vez em longa-metragem. Prepare-se para ficar tocado com a história de Owen Suskind, rapaz de 23 anos que está se organizando para deixar a casa dos pais, depois de formado, e viver em seu próprio apartamento. Poderia ser uma história comum, não fosse o fato de Owen ter sido diagnosticado com autismo aos três anos de idade. Ele é fã das animações da Disney, e os filmes do estúdio o ajudaram a sair de um estado introspectivo e a se comunicar com os pais. É isso que mostra o belo documentário Life, Animated.
Exibido no Brasil durante o Festival do Rio em 2016, o filme é baseado no livro de Ron Suskind, jornalista e pai de Owen, intitulado Life, Animated: A Story of Sidekicks, Heroes, and Autism, lançado em 2014. Em sua versão audiovisual, Life, Animated nos apresenta vídeos caseiros da infância de Owen, com seu comportamento pré e pós diagnóstico. Levado a especialistas por não conseguir mais se comunicar, Owen parecia estar fadado a uma vida de isolamento, até que seus pais descobriram que os filmes da Disney que o menino tanto via serviriam de elo entre eles. Em um dos tantos momentos emocionantes do documentário, Ron conta que pegou um boneco do personagem Iago (o papagaio maligno de Aladdin, 1992) e imitou sua voz na tentativa de falar com o filho. E ele o respondeu. A partir dali, seus pais e seu irmão utilizavam frases dos filmes para conseguir trocar ideias com o menino. Isso abriu um mundo para Owen, que saiu de sua introspecção através dos scripts da Disney. Filmes como Peter Pan (1953), Mogli: O Menino Lobo (1967), A Pequena Sereia (1989), Aladdin (1992), O Rei Leão (1994) e tantos outros clássicos do estúdio de Walt serviram como uma forma de interação para Owen, que se formou e começou uma vida de independência, embora assistida.
Além de entrevistar os pais, o irmão e o próprio Owen, Roger Ross Williams toma o cuidado de transformar seu documentário em algo um tanto mágico. A história do protagonista também é contada através de animação, recurso que conversa totalmente com o assunto do filme. Certo dia, o pai de Owen observou no caderno do filho que ele desenhava apenas os personagens coadjuvantes das animações, aqueles que ajudam o herói da história a terminar a jornada. Owen, em sua cabeça, nunca poderia ser o protagonista. Portanto, ele se tornou o rei protetor dos “sidekicks” – os fiéis escudeiros, em tradução livre. No doc, Williams constrói um curta animado com Owen circundado por Sebastião, Timon, Rafiki, Abel, Iago e Baloo, alguns dos coadjuvantes mais famosos das histórias Disney. Bonito de ver e um tributo interessante a Owen, que deve ter ficado encantado ao assistir. Inclusive, seria interessante se o cineasta incluísse as reações do retratado a seu próprio filme.
Com participações emocionantes de Jonathan Freeman e Gilbert Gottfried, atores e dubladores de Jafar e Iago, respectivamente, e com muito respeito no tratamento de um rapaz com uma síndrome sem cura, Life, Animated é um documentário caloroso, que pode ensinar uma ou duas coisas a respeito do autismo e de como é possível sobrepujar uma condição aparentemente irreversível. Logicamente os níveis de autismo mudam de pessoa a pessoa, assim como seus interesses. Este documentário consegue capturar bem essa situação particular de Owen, nos fazendo entrar no mundo de imaginação daquele rapaz no processo.
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