Juan dos Mortos
Crítica
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Sinopse
Juan é um sujeito de 40 anos especializado na arte de não fazer nada. Um dia, se depara com uma misteriosa infecção que está transformando os habitantes de Havana em mortos vivos famintos. Juan, como um bom cubano, decide começar um negócio ao lado do amigo Lazaro para tirar vantagem da situação. Eles se montam uma equipe especializada em assassinar zumbis com um preço acessível.
Crítica
Zumbis são mortos-vivos que agem apenas por instinto, pois privados de racionalidade. Sua base metafórica serve com frequência ao cinema para exemplificar questões político-sociais. Sendo assim, a Cuba socialista, mesmo 50 anos após o levante que erigiu Fidel Castro e companhia ao poder, é o cenário ideal (ao mesmo tempo improvável) para as tais criaturas, exatamente como alusão a sistemas de governo, comportamentos coletivos e traços de quem vive sob a égide de um regime contrário ao capitalismo dominante. Coube ao diretor Alejandro Bruqués realizar o primeiro filme de zumbis ambientado e produzido na Ilha, nele fazendo graça sobre o embargo, a ideia fixa do êxodo, peculiaridades do próprio povo cubano, entre outros.
Estamos no inconfundível terreno do Filme B, por mais que a tecnologia digital tenha amenizado as tosqueiras que o caracterizavam (e davam charme) noutros tempos. Juan dos Mortos se insere na tradição do gênero terrir, mescla de terror e comédia. Seu protagonista é Juan, um típico (e tipificado) terceiro-mundista que vive de pequenos trambiques e atividades esparsas. Tudo corre bem em Havana até que pessoas começam a se comportar de maneira estranha, comendo carne humana e vagando sem rumo. O que seriam eles? Dissidentes contratados pelo império americano, segundo noticiam os meios de comunicação locais. A epidemia cresce, pessoas morrem aos montes, e o que Juan e seu amigo Lázaro resolvem fazer? Ganhar dinheiro abrindo um serviço chamado “Juan dos Mortos – Matamos seus entes queridos”.
Tudo é visto pela ótica de Juan e de seus companheiros, incluindo aí o já mencionado amigo, o jovem que mimetiza arquétipo norte-americano, o travesti histriônico, o homenzarrão que não suporta ver sangue e a filha desgarrada, com quem o protagonista quer reatar laços em meio ao caos. Não há qualquer ranço no desenrolar de Juan dos Mortos, filme feito para rir da própria desgraça, por assim dizer. A direção se preocupa basicamente em ampliar o efeito cômico das sequências, deixando às entrelinhas do roteiro algo sobre a dimensão social de um país sob o efeito de sua história revolucionária. O diretor não poupa compatriotas, cujos estereótipos – sobretudo comportamentais – fundamentam os personagens.
Entre mortos e feridos (tsc), Juan dos Mortos busca um público mais bem-humorado que aquele aferrado à verossimilhança ou ao patriotismo radical. Não deveria ser tachado de “alienado”, mas também não convém buscar nele mais profundidade que as próprias ações e palavras explicitam. São raros os subtextos, pois tudo vem à tona (verbal e visualmente) numa galhofa banhada pelo sangue dos “dissidentes” e de alguns “inocentes”. Gostar ou não vai muito do “espírito” de cada um. A meu ver, Juan dos Mortos é uma bobagem divertida, turbinada com a consciência política dos que cresceram embalados por décadas de insurreição e sobrevivência.
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