Crítica

Se valendo de uma estética diferenciada, Jogada de Mestre é a nova aventura do diretor sueco Daniel Alfredson, adaptando uma história real, após realizar duas versões dos livros da trilogia Millennium. O aporte de dinheiro estadunidense se vê no encarecido elenco, contando especialmente com Anthony Hopkins no papel do senhor sequestrado, Mister Freddy Heineken, em um caso até hoje repercutido, acontecido em 1983. O restante do casting é comumente achincalhado pela crítica de cinema especializada, especialmente por contar com Sam Worthington, Jim Sturgess e Ryan Kwanten, em que estes atores quase sempre mal avaliados formam um grupo de marginais igualmente fracassados, que acabaria por pôr em prática um mirabolante plano.

A fotografia saturada destaca a neblina e o clima nada ameno, fazendo lembrar demais a ambientação de Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2009), ainda que o universo apresentado tivesse muito mais contato com cores vivas e aspectos mais comerciais do que a proposta da trilogia de Stieg Larsson. O background é até simplório, ligado à obviedade na busca por lucro por parte do bando comandado por Van Hout (Sturgess). Esta turma de pretensos galãs então se organiza para realizar o ataque, a despeito da recusa ideológica de Willem Holleder (Worthington), sendo este o mais sensato dentre os bandidos.

O grave problema do filme está no roteiro, que acaba por contaminar qualquer possibilidade de boa atuação por partes dos membros do elenco. Peter R. de Vries e William Brookfield não conseguem em seu texto passar nem a gravidade do caso, como também não fazem afeiçoar o espectador pelas personagens, uma vez que não há o mínimo aprofundamento de seus causos. Apesar de trilha sonora moderna, não há menção a suspense, ou variação de espírito. Toda a trama aparenta uma superficialidade típica dos produtos genéricos do mercado hollywoodiano, mas sem qualquer pompa ou agrado característico do circuito comercial.

O sentimento de pertencimento a um clube exclusivo não se propaga, pois iguais aos sequestradores haviam milhares de outros marginais, tanto na realidade quanto em telas grandes de cinema. O final, completamente anticlímax, ainda faz a raiva aumentar em quem assiste, pela riqueza da história posterior ao rapto de Heineken, em que as figuras de Hout e Holleder se tornaram chefões do crime na Holanda. A escolha por retratar unicamente esse aspecto da historiografia das personalidades se torna patética pelo modo completamente frouxo que ocorre a transcrição dos fatos, desinteressando por completo o aficionado por filmes de contravenção e assalto, não gerando neles sequer um genuíno fascínio, numa história que, por si só, já prenderia a atenção mundial.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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