Crítica

A sensibilidade da diretora Amy Berg transparece em cada segundo de Janis: Little Girl Blue, um documentário capaz de encantar os fãs de Janis Joplin e também converter quem não conhece muito sobre sua carreira. Numa abordagem honesta e respeitosa da vida da cantora, Berg entrevista familiares, colegas de banda, amigos e ex-amantes, traçando o perfil de Janis desde a juventude difícil em Port Arthur, Texas, até a fase do sucesso e dos excessos que eventualmente causaram sua morte.

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Além das entrevistas, fotos e imagens de arquivo, Janis: Little Girl Blue se utiliza de cartas escritas pela própria Janis, narradas brilhantemente pela cantora Cat Power (ou Chan Marshall) numa bela interpretação, emulando o tom de voz e o sotaque do sul dos Estados Unidos da artista. A Janis das cartas soa quase como uma garotinha, especialmente quando escreve para os pais sobre o sucesso que encontrou em São Francisco, orgulhosa da carreira que construía, mas sabendo que estava num caminho bem distante do que a família planejava.

É claro que é impossível fazer com que uma vida inteira – por mais curta que tenha sido – caiba num filme de cem minutos, mas a construção cuidadosa da personalidade de Joplin, feita em ordem cronológica, dá ao espectador a impressão de estar diante de uma velha amiga. É exatamente isso que faz de Janis: Little Girl Blue uma experiência simultaneamente agradável e dolorosa de assistir. Já sabemos o que acontece em 1970, quando a cantora tinha apenas 27 anos. É difícil não se emocionar ao acompanhar os planos para o futuro que ela, inocentemente, fazia em cartas e entrevistas, quando sabemos que não viverá para realizar nenhum deles.

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Abordando de maneira pesarosa – mas sem julgamentos – os problemas com as drogas que levaram à morte precoce da cantora, Janis: Little Girl Blue consegue criar um belo retrato da pessoa doce e intensa que foi a artista. Trata-se da jornada de uma mulher que queria, acima de tudo, ser amada. Depois de uma juventude turbulenta numa cidade em que sempre se sentiu deslocada, ela acabou encontrando (quase por acidente) uma saída e uma carreira em sua voz: e se entregou completamente à música. É uma pena, no entanto, que essa história precise ser contada pelos amigos e familiares pois, diferentemente da protagonista, estes tiveram a chance de envelhecer.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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