Crítica

Em 1942, Iván Bojko foi retirado da Ucrânia por nazistas para fazer trabalhos forçados na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Seis anos depois ele conseguiu imigrar para o Brasil, onde permaneceu sem pátria por muitos anos e sem contatar seus familiares por conta do bloqueio imposto pelo regime político russo no país. Quase 70 anos depois, o diretor Guto Pasko presenteia o ucraniano com uma passagem de volta para o seu lar e assim retomar as origens e lembranças do passado que ficou há muito tempos para trás. É a partir deste retorno que o documentário Iván nos coloca na vida deste personagem da vida real, garantindo boas doses de emoção e, especialmente, aula de história sobre um outro lado do conflito que poucas vezes é visto.

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Com uma câmera na mão, o longa foge um pouco do tradicional formato “depoimentos + documentos” para acompanharmos este passeio de Iván por suas origens, revivendo a cultura de seu país, seja através do campo de girassóis (símbolo da Ucrânia), por um passeio de ônibus com destaque para as paisagens e arquitetura de lá e, é claro, o reencontro com quem ficou para trás. Entre tantos personagens interessantes, amigos e parentes do passado, há diversos momentos tocantes, sendo o maior deles quando Iván chama pelo pai repetidamente enquanto chora. A cena acontece na visita a casa onde passou sua infância e adolescência, no município de Berejany na Província de Ternópil, região oeste da Ucrânia.

Do acolhimento pela comunidade ucraniana em Curitiba no final dos anos 1940, passando pela vida tranquila com o emprego de costureiro da Polícia Militar Paranaense (onde ficou por 28 anos), Iván acreditou que nunca mais voltasse à Ucrânia e retomasse o contato com a irmã mais nova, que ficou por lá. Quando veio ao Brasil, ele não quis romper seus laços com sua terra natal, tanto que manteve os costumes e as tradições. Só não podia retornar à Ucrânia pois seria morto ou preso e enviado à Sibéria.

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O filme é baseado nos diários de Iván, que conheceu o diretor Guto Pasko em 2006, durante as gravações do documentário Made in Ucrânia: Os Ucranianos no Paraná (2006). As filmagens ocorreram em 2010, com o protagonista já em seus 91 anos de idade, mas nem por isso menos disposto física ou emocionalmente, demonstrando grande força para falar de seus traumas. Ao optar por uma formato mais naturalista, o diretor conquista o espectador com uma história em que os sentimentos são sinceros, sem precisar do subterfúgio de câmeras invasivas ou trilhas sonoras edificantes. Uma aula de sabedoria sobre um homem que lutou ao lado da esposa e da filha recém-nascida para conseguir um lar onde não fosse agredido e explorado, mas nem por isso deixou de sentir saudade de onde nasceu.

 

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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