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Sinopse

Durante a Guerra Fria, Indiana Jones e o jovem Mutt buscam a Caveira de Cristal, um objeto místico de grande valor, mas logo percebem que não estão sozinhos. Soviéticos, liderados pela cruel Irina Spalko, também querem o objeto para tentar dominar o mundo.

Crítica

Extraterrestres, discos voadores, formigas gigantes canibais, ataques de escorpiões, ninjas peruanos, assassinos russos, agentes duplos, perseguições em plena Floresta Amazônica, mergulhos na Foz do Iguaçu e pirâmides incas. Essa verdadeira salada de referências é, por incrível que pareça, só uma amostra do que espera pelo espectador em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. E quer saber o mais fantástico disso tudo? É absolutamente lógico! E o resultado não poderia ser mais satisfatório!

Quase vinte anos após sua última aventura nas telas, o produtor (e criador do personagem) George Lucas e o diretor Steven Spielberg se uniram novamente para mostrar o arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford, mais confortável do que nunca no papel) pronto para uma nova missão. Só que ao invés de perseguir a arca com as tábuas de Moisés, de invadir o Templo da Perdição ou de ir atrás do Santo Graal, ele está em busca de uma misteriosa caveira de cristal, de formação obviamente alienígena. Este artefato pode ser a chave para a localização de um reino de tesouros incalculáveis, além de um poder inimaginável: o controle da mente. E é por isso que há um grupo de espiões comunistas no seu encalço, liderados por uma gélida capitã (Cate Blanchett, perfeita) que busca desesperadamente colocar as mãos em tal descoberta.

Mas Indy não está sozinho. Na busca de um antigo mestre (John Hurt), o único estudioso que domina este segredo, ele irá reencontrar uma antiga paixão – Marion Ravenwood (Karen Allen), vista pela primeira vez em Os Caçadores da Arca Perdida (1981) – além de se deparar com um garoto (Shia LaBeouf) que pode ser seu filho. Há ainda um antigo companheiro que possui intenções próprias (Ray Winstone, de Os Infiltrados, 2006), isso sem mencionar o novo diretor (Jim Broadbent) do Marshall Institute, onde leciona.

Se a trama começa no meio dos Estados Unidos, onde supostamente estariam escondidos os maiores mistérios da Humanidade, logo partimos para a América do Sul. Do Peru vamos para o meio da Amazônia, até terminarmos num ponto indefinido (a geografia realmente não é o forte da produção). E se o início parece custar um pouco a engrenar, com muito papo e pouca ação, logo nosso herói mostra que, mesmo aos 65 anos, o tempo afastado pouco importa – parece exatamente o mesmo protagonista visto nos filmes de 81 (o já citado Caçadores), 84 (O Templo da Perdição) e 89 (A Última Cruzada).

E isso é o melhor deste novo longa: seu respeito com a série – referências aos personagens de Sean Connery e Denholm Elliot são mais do que bem vindas, sem mencionar a participação de Karen Allen e de uma rápida aparição da famosa Arca Perdida! Outros elementos característicos também se fazem presente, como o medo que Jones sente por cobras, a já corriqueira invasão de animais nojentos (depois de cobras, insetos e ratos, temos desta vez escorpiões e formigas carnívoras!), a habilidade no chicote e o famoso chapéu. Está tudo lá, como se estes 19 anos não fossem mais do que seis meses!

Há quem venha reclamar do tom fantasioso que a obra nitidamente assume. Mas, por favor! Como reclamar da inverossimilhança de tais acontecimentos numa série em que já fomos apresentados a espíritos raivosos que literalmente derretem que os importuna, a vilões que arrancam os corações pulsantes de suas vítimas com as próprias mãos ou a fantasmas falantes com mais de mil anos? O que é visto desta vez, se tivermos isso em mente, não é de forma alguma um exagero.

O elenco reunido é outro deleite. Blanchett é a vilã definitiva, a melhor de toda a série. O olhar maníaco, a força empregada e a certeza de seus objetivos nos fazem inclusive simpatizar com ela, temendo pelo seu destino em alguns momentos. Winstone é o picareta ideal, nunca sabemos em qual lado está e o que realmente busca. Allen, assim como Ford, está em casa e mesmo estando pouco em cena faz valer o convite. LaBeouf compõe um jovem afobado e arrogante, porém com os requisitos necessários para, quem sabe, assumir a franquia em breve – mas, como mostra a cena final, não tão cedo assim! Ele está num lugar que deveria ter sido de River Phoenix, que teve uma das suas últimas aparições na tela grande em A Última Cruzada, pouco antes de falecer. Talentoso e ágil em sua interpretação, promete um futuro melhor que seu antecessor. Já Broadbent e Hurt são veteranos que sabem muito bem o que fazem e dispensam apresentações. Só de vê-los atuando já vale à pena.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal tem todos os elementos exigidos e esperados. Deve fazer sucesso entre os jovens e conquistar os fãs mais exigentes. Assim como os primeiros filmes procuravam recriar o clima dos seriados aventureiros dos anos 30, desta vez a inspiração está nos filmes B de terror e ficção científica tão comuns na década de 50. Revisitando clássicos e mostrando que ainda é mestre no que faz, este trio – Lucas, Spielberg e Ford – prova que nem sempre o novo significa o melhor. Em alguns casos, felizmente, a experiência ainda tem muito a dizer!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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