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Sinopse

Passaram-se duas décadas dos eventos catastróficos vistos no primeiro filme. A Terra sofre uma nova tentativa de invasão alienígena. Desta vez, a letalidade da investida extraterrestre parece ainda mais devastadora. 

Crítica

Vinte anos atrás, o subgênero do cinema desastre, acostumado a retratar grandes catástrofes, chegou ao seu ápice com o lançamento de Independence Day (1996), produção modesta comandada pelo alemão Roland Emmerich que custou US$ 75 milhões e, mesmo sem nenhum grande astro no elenco – este foi um dos primeiros sucessos de Will Smith – arrecadou mais de US$ 817 milhões em todo o mundo, confirmando-se como o filme mais visto daquele ano ao redor do globo. Dean Devlin, o roteirista, foi contratado logo em seguida sob um valor absurdo – e mantido em segredo por ambas as partes – para escrever a sequência, que deveria ter sido lançada o quanto antes. Acontece que Devlin assumiu não ter conseguido elaborar nada à altura do primeiro episódio, devolveu o dinheiro e abandonou o projeto. E assim ficou, por quase duas décadas, até ele voltar ao tema em Independence Day: O Ressurgimento. E a conclusão que se chega é a do velho ditado que afirma que um homem deve sempre confiar em sua primeira impressão: essa continuação, afinal, nunca deveria ter sido feita, ao menos não de forma tão ingênua e desastrada como a aqui apresentada.

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Independence Day: O Ressurgimento situa sua trama exatamente após o mesmo intervalo entre as duas produções. Como o estúdio não aceitou pagar os US$ 50 milhões exigidos por Smith, seu personagem foi morto, mas todos os demais – com carreiras que nunca chegaram perto da popularidade do astro – estão de volta. Jeff Goldblum continua como o cientista David Levinson (mas poderíamos chamá-lo de Ian Malcolm, pois é basicamente o mesmo personagem que interpreta na saga Jurassic Park), cheio de frases de efeito e absolutamente nada a fazer em cena. Whitmore (Bill Pullman, com a cara de cansado de sempre) não é mais o presidente, cargo ocupado agora por Lanford (Sela Ward, que aparece em duas cenas no começo e depois some). O doutor Okun (Brent Spinner, de Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato, 1996) sai de um coma de duas décadas (!) em perfeito estado apenas para se maravilhar com os avanços tecnológicos deixados pelos alienígenas, enquanto que Vivica A. Fox repete o mesmo destino de Kylie Minogue no recente Terremoto: A Falha de San Andreas (2015).

No time dos novatos, destaque para Liam Hemsworth, mostrando mais uma vez que não tem o mesmo talento – ou sequer desenvoltura – do irmão Chris, em presença tão apática quanto a que registrou na saga Jogos Vorazes. Ele é o piloto rebelde metido a herói da vez – papel que Will Smith defendeu com muito melhor resultado no original – que namora a filha do ex-presidente (Maika Monroe, pegando o papel que anteriormente foi vivido por Mae Whitman, mas agora, já adulta, recusada pelo estúdio por não ter se tornado uma mulher suficientemente ‘bonita’). William Fichtner tenta impor algum respeito como a força de resistência em Terra ao aparecer como um general, enquanto que Charlotte Gainsbourg é a europeia cult da vez que tenta conceder algum respeito ao projeto (mais ou menos o que Juliette Binoche fez em Godzilla, 2014). Ou seja, sua presença é insignificante e desnecessária, mas ao menos ela deve ter se divertido em um set tão diferente daqueles aos quais está acostumada – Roland Emmerich, definitivamente, não é Lars von Trier.

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Pra quem decidir encarar essa sessão – e jogar fora duas horas da sua vida – e estiver em busca de alguma história, é preciso estar ciente de que a orientação perseguida pelos realizadores foi de recriar, quase que passo a passo, tudo que foi visto antes. E da maneira mais óbvia e expositiva possível, com diálogos redundantes e tão gratuitos que chegam a ser risíveis (“o telefone estava tocando, e alguém atendeu”, alguém diz para justificar a nova invasão extraterrestre). Ou seja, os alienígenas estão de volta, e dessa vez eles vêm com tudo. A diferença é que uma outra raça entra em contato primeiro, tentando ajudar os humanos com informação e tecnologia, em uma espécie de força de resistência. Só que os homens irão, evidentemente, trocar o pé pelas mãos, e o socorro se mostrará inútil. Assim, seguindo uma teoria de Colmeia, de que uma Rainha Mãe estaria coordenando o ataque de todos os demais aliens, os esforços terrestres se concentrarão em acabar com essa ameaça central, imaginando que com sua eliminação, todo o resto se dissipará. Algo que diversos mundos por todo o universo já tentaram, e nenhum foi bem sucedido. Viu como é fácil?

O grande problema de Independence Day: O Ressurgimento, no entanto, é a visão estreita do diretor e a falta de habilidade dos 5 (!) roteiristas em criar eventos de fato interessantes e originais. Clichês já muito explorados, como o cachorrinho que precisa ser salvo na última hora e a briga à mão, com direito a soco e tudo, entre um homem e um alienígena, também voltam a se fazer presente. Da mesma forma, outras situações inexplicáveis tomam o centro da ação de forma constrangedora, como uma nave espacial que é roubada de uma estação lunar, vem até à Terra apenas para oferecer um carona e volta rapidamente para a Lua, tudo em questão de instantes. Ou a tal Rainha Mãe (conceito sugado diretamente da saga Alien), que uma vez revelada, ao invés de ir direto acabar com sua ameaça maior, prefere perseguir um ônibus escolar cheio de criancinhas no meio do deserto. Parece brincadeira, mas tudo isso é muito levado à sério. E isso, numa situação como a aqui apresentada, não pode ser pior.

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No entanto, é importante dar um passo atrás para uma análise mais detalhada. É claro que um filme como Independence Day: O Ressurgimento só é feito por motivos mercadológicos, e por isso todo e qualquer risco deve ser evitado. Mas também não é preciso tanto receio em propor algo novo, como Emmerich demonstra em todos os instantes. No ano passado ele lançou o drama Stonewall (2015), que ao embranquecer e amenizar os fatos e os envolvidos no caso que deu origem ao movimento de Orgulho Gay ao redor do mundo foi criticado impiedosamente e colheu o pior desempenho de bilheteria de toda a sua carreira. Dessa vez, o diretor volta a incluir um casal homossexual em cena, porém sem coragem de nem ao menos oferecer um beijo entre os dois, mesmo que um esteja à beira da morte. E se em detalhes desse tipo ele falha, imagina nas decisões maiores. Ou seja, é tudo asséptico, artificial e inverossímil. Melhor mesmo fez Susan Sarandon, que quando convidada para o papel da Presidente dos EUA, recusou afirmando ter sido esse o roteiro mais absurdo que já lera. Ela conseguiu cair fora a tempo. Sorte dela!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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