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Sinopse

De volta ao hotel administrado por Drácula, sua filha Mavis está de saída para visitar os sogros. Uma oportunidade que o Conde vai aproveitar para ficar de babá do seu neto meio-humano / meio-vampiro. Preocupado que o menino não demonstra sinais do seu lado monstro, ele e seus amigos vão unir esforços para fazer o vampirismo do garoto despertar.

Crítica

Se tem alguém que há um bom tempo não é mais o mesmo em Hollywood, esse é o Adam Sandler. Filmes como Tá Rindo do Que? (2009), Cada um tem a Gêmea que Merece (2011), Este é o Meu Garoto (2012), Juntos e Misturados (2014) e o recente Pixels (2015) renderam muito menos do que o esperado, sem falar no massacre junto à crítica especializada – Trocando os Pés (2015) tem avaliação positiva de apenas 9% no site Rotten Tomatoes, que reúne as opiniões dos principais críticos de cinema dos EUA. A solução, portanto, foi se reinventar, e a melhor maneira de seguir faturando sem mostrar nas telas seu semblante eternamente entediado foi através da animação. E o resultado chamou-se Hotel Transilvânia (2012), produção que brincava com os monstros clássicos da ficção em um universo muito mais cômico do que assustador. A investida se revelou muito melhor do que ter esperado – mais de US$ 350 milhões arrecadados em todo o mundo, o mais alto desempenho de um filme do astro em toda a sua filmografia! Assim, não é nenhuma surpresa estarmos agora diante de Hotel Transilvânia 2. Pena que a preguiça que tomou conta de sua carreira como intérprete marque presença também neste trabalho como dublador.

Com o mesmo Genndy Tartakovsky (criador de O Laboratório de Dexter, 1996, e Samurai Jack, 2001) na direção, Hotel Transilvânia 2 parte do exato ponto em que nos despedimos do longa anterior: no casamento dos apaixonados Mavis (voz de Selena Gomez), uma garota vampira, e Jonathan (voz de Andy Samberg), um rapaz humano. Como qualquer casal ~ quase ~ normal, os dois logo estão grávidos, e com o nascimento do pequeno Dennis uma dúvida surge: será ele um garoto como qualquer outro, ou com o tempo se transformará em um monstro, assim como a mãe. Preocupada com a criação do menino, Mavis decide conhecer onde o próprio Jonathan foi criado, em plena Los Angeles, imaginando que talvez esse ambiente seja mais apropriado para uma criança. Mas, ao deixar o bebê aos cuidados do avô – o lendário Drácula (voz de Sandler) – este e seus amigos (Frank, Múmia, Lobisomem e Homem Invisível) farão de tudo – ou seja, sujeitarão o rebento aos mais inimagináveis perigos – para que o “monstro interior” dele se manifeste. Prática essa, aliás, que irá gerar uma forte tensão familiar.

Este argumento, aliás, é o mais questionável de Hotel Transilvânia 2. Primeiro, pelo motivo mais óbvio: os protagonistas decidem ir a um acampamento infantil, se afastando, portanto, do cenário que dá título ao longa! Ou seja, mais da metade da trama se dá fora do hotel, em outros ambientes em que a interação dos seres mais esdrúxulos e aparentemente assustadores – grande charme do primeiro filme – praticamente inexiste. Segundo, a incursão de Mavis e Jonathan a uma cidade grande também soa deslocada, recorrendo à tiradas óbvias – ela se apaixona por lojas de conveniência abertas 24h – e sem o choque de costumes que deveria surgir de tais interações. Por fim, os riscos que Dennis precisa enfrentar por decisão do avô ansioso por relembrar seus áureos tempos são por demais infantis, incapazes de provocar graça ou susto. Não se ri, muito menos se assusta. Dessa forma, qual a razão deste filme existir, senão arrecadar mais alguns milhões nas bilheterias?

O terço final da história, com a entrada em cena de um novo personagem – Vlad (voz do veterano Mel Brooks), pai de Drácula, um vampiro nada afeito às modernidades dos novos tempos – enfim injeta alguma emoção no enredo. Não sabemos de início o que ele deseja realmente, se eliminar os estranhos – os humanos – ou entender o que se passa no hotel comandado pelo filho. Seus asseclas, morcegos selvagens, impõem medo e respeito, e uma reviravolta chega a se ameaçar, com suspense e bom humor. Ao mesmo tempo, é a oportunidade para se resgatar uma mensagem mais universal, ressaltando o respeito às diferenças de cada um e o valor de se estar entre quem se ama. Entre mortos e feridos, gerando mais bocejos do que boas risadas, Hotel Transilvânia 2 se salva do desastre completo durante os últimos suspiros, mostrando que o conjunto é melhor do que um ou outro esforço individual. Ainda mais quando esse é liderado por um ator que há muito tempo parece ter esquecido o verdadeiro significado da palavra ‘entretenimento’.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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