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Sinopse

Mike Williams se vê no meio de um dos maiores vazamentos de petróleo da História dos Estados Unidos. Ele e os demais trabalhadores de uma plataforma lutam para sobreviver ao terrível incidente.

Crítica

De modelo de cuecas a ator indicado ao Oscar, Mark Wahlberg tem percorrido uma das carreiras mais incomuns e bem sucedidas da Hollywood atual. Marombeiro fã de um peso pesado, não esmorece diante os mais diversos tipos de opções que surgem em seu caminho, indo de bobagens milionárias à oportunidade de trabalhar sob o comando de cineastas de respeito. E entre as muitas parcerias profissionais que tem desenvolvido, uma que se destaca é essa com o diretor – e também ator – Peter Berg. E a possibilidade de estar mais uma vez sob o comando do realizador do tenso O Grande Herói (2013) parece ser a maior justificativa para esse Horizonte Profundo: Desastre no Golfo, filme que está longe de ser artisticamente uma tragédia como a anunciada em seu título, mas também carece de méritos suficientes que o diferenciem do demais similares do gênero.

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Berg segue de perto – e sem muita originalidade – a fórmula básica de qualquer filme catástrofe. Começa situando as principais peças do jogo – quem são os personagens envolvidos no evento, suas origens e motivações – e, em seguida, trata de uni-los sob um único propósito. Dessa vez, o que temos são trabalhadores de uma plataforma petrolífera no meio do oceano. Entre eles está o operário experiente (Wahlberg, reprisando um tipo que lhe cai confortavelmente), a representante das minorias (Gina Rodriguez, em seu primeiro papel de destaque no cinema), o chefe cansado (Kurt Russell, experimentando um ressurgimento na carreira) e o novato preste a assumir os piores riscos (o neogalã Dylan O’Brien, tentando mostrar que é mais do que um ídolo adolescente). O cenário se completa com o vilão inescrupuloso (John Malkovich, assumindo a função pela enésima vez e indo pouco além da repetição mecânica daquilo que todo mundo já sabe que ele domina).

Ao invés de ir direto para o episódio catártico que provavelmente atraiu 98% da audiência, o diretor parece acreditar ser possível desenvolver e se aprofundar em personagens tão rasos quanto esses aqui descritos. O roteiro escrito por Matthew Carnahan (Guerra Mundial Z, 2013) e Matthew Sand (Ninja Assassino, 2009) partiu de um artigo de revista sobre um episódio real. Ou seja, não há muito a inventar além do óbvio. Mesmo assim, perde-se um tempo precioso com a esposa de um, o namorado daquela, a filha daquele outro. Tenta-se emular uma simpatia do público em relação às figuras envolvidas, como se laços familiares e amorosos fossem suficientes. Esquece-se, no entanto, que o fundamental é se importar com os mesmos. E isso surge a partir de boas atuações e da verossimilhança de seus atos. Algo que gestos intempestivos, um sabe-tudo que desde o início reclama que “algo está errado” (seria uma intuição sobrenatural?) e um chefe déspota que desrespeita todos a seu redor definitivamente não colaboram neste sentido.

Quando, enfim, o caos se faz presente, grande parte do interesse da plateia já se desfez. É preciso reconquistá-lo, e para isso faz-se uso de cenas impactantes e de efeitos especiais que buscam impressionar pelo realismo. O fato é que, com metas atrasadas e despesas crescentes, a pressão para que um resultado positivo surgisse das instalações aqui observadas era tamanho que desrespeitou-se o básico, como cuidados com a segurança e a manutenção dos equipamentos. Isso dito, quando um incidente extraordinário se fez presente, a rápida constatação foi de quem ninguém ali se encontrava preparado para o que estava para acontecer. Assim, sem ter como reagir, as consequências foram imprevisíveis, combinando fogo, mortes e explosões. E um retrato apurado de mais um belo exemplo da estupidez humana diante da ganância desenfreada.

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Peter Berg tinha em mãos material suficiente para um filme crítico e que apostasse na denúncia e no retrato de um acidente de repercussões devastadoras. Mark Wahlberg poderia ser o protagonista perfeito para uma obra como essa – talento para tanto ele já revelou em situações anteriores. No entanto, é mais fácil associá-lo a produções mais populares, que exploram cenários grandiosos, fortes investimentos de marketing e reações imediatas. Assim, apostou-se em um caminho mais óbvio, que até oferece um retorno razoavelmente satisfatório, mas que pouco repercute. Assim, Horizonte Profundo: Desastre no Golfo revela ter méritos suficientes para garantir uma audiência atenta até o término da sessão, mas incapazes de permanecerem na memória muito além de sua conclusão. Contenta-se em ser apenas entretenimento, quando sua função deveria almejar responsabilidades muito maiores.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Francisco Carbone
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MÉDIA
5

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