Crítica

Mais do que um filme denúncia, Hooligans, de Lexi Alexander, é uma história de desajustes, se valendo do movimento agressivo atrelado ao futebol britânico para estabelecer seu próprio universo de violência, fanatismo e alienação. O roteiro da diretora junto a Dougie Brimson e Josh Shelov segue, de início, a rotina de Peter Dunham (Charlie Hunmam), rapaz cujas companhias perigosas definem seu estilo de vida. Logo, no entanto, o passa a ser a vida de Matt Bruckner (Elijah Wood), um aluno que é expulso de Harvard. Sem rumos pré-determinados ou ideias do que fazer com seu tempo, aos poucos os dois personagens se aproximam, primeiro por uma condição familiar, depois por afinidade emocional.

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O hooliganismo é uma prática tradicional entre as torcidas organizadas britânicas, e ficou conhecida mundialmente pelos idos dos anos 2000, quando os torcedores arruaceiros começaram a vandalizar os países sede durante o período de Copa do Mundo. É a partir desse mesmo acaso que se fundamenta a amizade de Matt e Peter, no começo através de uma obrigação, para aos poucos se tornar mais íntima e violenta.

O cenário, baseado próximo à torcida do West Ham, em Londres e subúrbios, ajuda a demonstrar como é o lugar comum de muitos dos adeptos desse estilo de vida, baseado em agressividade, impulso, instinto de sobrevivência e nenhuma técnica de luta, exceto a briga de rua. Sem qualquer preparo prévio, o neófito Bruckner se vê em apuros muito rápido, sendo obrigado a se defender como pode, com o senso de urgência no máximo.

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A condução, tanto temática quanto cinematográfica, se encaixa perfeitamente à fita, com momentos de câmera na mão em meio às brigas, emulando o nervosismo e receio de quem está no conflito, bem como há momentos de confraternização entre os garotos marginais, além de mostrar meninos ainda em fase de treinamento infantil de futebol, fator que humaniza os contraventores, pondo-os no mesmo patamar que qualquer outro ser humano comum. São elementos como estes que fazem deste um filme bem visto pela crítica de cinema mundial.

O fato de deixar claro, seja através das ações ou mesmo pelo discurso presente no drama, que os atos de violência são execráveis, há também um estudo prático da necessidade que o homem tem de conflito. O entorno de Matt procura nele uma postura de responsabilidade, acima de qualquer conduta passivo-agressiva que ele passe a ter ao frequentar os arredores dos estádios ingleses. A jornada de peregrinações do personagem revela culpas, medos e receios em encontrar sua própria identidade.

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Hooligans é um filme que julga o choque de gerações em seus personagens principais, tanto em Matt e seus familiares, preocupados com seu futuro, quanto entre os irmãos Peter e Steve (Marc Warren), que estão em estágios distintos do movimento, mostrando um como um arruaceiro e outro como um ex-líder de torcida aposentado. O fardo que recai sobre o clã Dunham é pesado, fazendo lembrar que nenhuma ação ruim do passado ficará impune. Apesar de bastante trágico, o final garante uma evolução ao personagem norte-americano, mostrando-o lidando com os problemas antigos de forma bastante diferente, agressiva, fugindo da covardia atual, trazendo seu costume gladiador para o cotidiano em Harvard. Deixando claro, enfim, que sua peregrinação não foi à toa.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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