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Sinopse

Depois de ser picado por uma aranha geneticamente modificada, Peter Parker ganha super poderes e as habilidades da aranha para se agarrar a qualquer superfície. Ele promete usá-los para combater o crime e começa a entender as palavras de seu querido tio Ben: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.

Crítica

Se hoje a Marvel Studios é sinônimo de sucesso, com Os Vingadores (2012) representando o auge da transposição de seus heróis para o cinema, o passado mostra que nem sempre foi assim. A Casa das Ideias amargou adaptações terríveis de seus personagens para a telona, com uma mudança radical vindo apenas em 2000, com a visão realista de Bryan Singer para os heróis mutantes em X-Men: O Filme (2000). Aquele foi o abre-alas para as demais adaptações bem sucedidas que viriam, dentre elas, Homem-Aranha, em 2002, longa-metragem de Sam Raimi que deu o pontapé inicial para uma das franquias mais rentáveis do cinema. Com Tobey Maguire no papel principal e com efeitos especiais excepcionais, o filme do herói foi mais um tijolo importante na sedimentação do bom momento da Marvel – ainda que, na época, ela não produzisse seus próprios filmes, contando com o trabalho da Fox (no caso dos X-Men) e da Sony (com o Homem-Aranha).

Com roteiro de David Koepp (Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros, 1993), Homem-Aranha conta a história de origem do herói. Peter Parker (Maguire) é um sujeito franzino e tímido que tem uma paixão platônica por sua vizinha, Mary Jane Watson (Kirsten Dunst). Durante um passeio do colégio, Parker é picado por uma aranha geneticamente modificada e se vê com super poderes. Consegue escalar paredes, ganha força extra-humana e começa a produzir uma espécie de teia super-resistente. Mas, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. É isso ao menos que o Tio de Peter, Ben Parker (Cliff Robertson), tenta ensinar para seu sobrinho pouco tempo antes de morrer. A prematura morte do tio coloca em Peter o senso de responsabilidade de combater o crime, já que Ben fora morto por um assaltante que, sem saber, Parker havia deixado escapar. Agora, vestindo uma malha vermelha e azul, Peter é o Homem-Aranha, escalando arranha-céus e combatendo o crime. O timing não poderia ser mais perfeito, visto que o Duende Verde (Willem Dafoe) está com planos de aterrorizar Nova York e tem no Homem-Aranha um inimigo à altura.

Esta primeira incursão de Sam Raimi no universo de Homem-Aranha é cheia de boas ideias e ótimas transposições dos quadrinhos para a telona. Para começar, o fato de Peter Parker atirar teias orgânicas é algo inventivo e completamente coerente com o universo do personagem. Ora, se o rapaz foi picado por uma aranha geneticamente modificada, porque diabos ele não produziria uma teia? Os fãs xiitas não gostaram muito desta adaptação por tirar de Parker um pouco de sua genialidade como cientista – fato que é explorado de forma superficial no filme, é verdade. Outra mudança, como a inexistência de Gwen Stacy, primeira namorada do Aranha nos quadrinhos, também acaba por ser coerente pelo fato de Mary Jane ser muito mais conhecida do grande público como a cara-metade do herói. Na seara das transposições fiéis, J. Jonah Jameson parece tirado diretamente dos quadrinhos para o cinema, com uma atuação hilária de J.K. Simmons, que consegue extrair toda a verborragia do personagem e colocá-la de forma convincente na telona.

Quanto ao herói, Tobey Maguire não tem muito espaço para as populares piadas que Homem-Aranha costuma falar ao combater o crime. Esta é uma das válvulas de escape de Peter Parker, tímido demais para falar qualquer dessas abobrinhas sem seu uniforme. O filme deixa isso um pouco de lado, colocando maior foco na ascensão de Parker, de um jovem rapaz introvertido para um sujeito que começa a perceber seu lugar no mundo – e que começa a entender que com grandes poderes, as responsabilidades aumentam consideravelmente. O ator consegue trazer esta carga para Peter, e sua química com Kirsten Dunst é uma boa razão para que acreditemos num possível romance. A atriz está divertida como Mary Jane, fazendo um bom misto de a garota da porta ao lado com a donzela em apuros.

Se Tobey Maguire convence mais como Peter do que como Homem-Aranha, o mesmo pode ser dito de Willem Dafoe, muito mais interessante como Norman Osborn do que como seu alterego, o Duende Verde. Viraria regra nos filmes do Homem-Aranha que os vilões não seriam apenas figuras unidimensionais, que pretendem dominar o mundo à custa dos cidadãos inocentes. Neste primeiro filme, Osborn é um cientista que, pressionado, decide fazer testes experimentais perigosíssimos que acabam alterando não só seu físico, mas também sua mente. Pai ausente, mas não necessariamente um vilão, Osborn começa a se entregar à personalidade sombria criada pelo soro injetado em sua corrente sanguínea, tornando-se assim o Duende Verde. Infelizmente, o traje não ajuda, transformando um dos arquiinimigos do cabeça-de-teia em um antagonista saído dos Power Rangers.

É interessante notar que Homem-Aranha é resultado total de sua época. Em um período de medo pós 11 de setembro, o herói surge como uma voz de esperança e, em seu desfecho, Sam Raimi coloca o povo de Nova York para ajudar o aracnídeo contra o vilão, em uma clara mensagem de que a união faz a força. “Você mexe com ele, mexe com Nova York”, grita um empolgado cidadão novaiorquino. Deliberadamente, os produtores de Homem-Aranha resolveram deixar, em algumas cenas, as torres gêmeas intactas, como uma forma de homenagem aos mortos no atentado.

Sam Raimi se revela um ótimo nome para capitanear esta aventura do herói da Marvel, mesmo estando mais contido do que o de costume. É possível ver o diretor se soltar mais no superior Homem-Aranha 2 (2004), que conta com o clássico vilão Dr. Octopus, interpretado de forma correta por Alfred Molina. Ainda assim, neste primeiro capítulo, Raimi consegue criar, com a ajuda dos montadores Arthur Coburn e Bob Murawski, uma empolgante aventura dos quadrinhos no cinema, fazendo algumas sequências que pegam emprestadas muitas características das HQs.

Com efeitos especiais excelentes para a época – que hoje podem parecer um tanto plastificados, principalmente nos momentos em que Peter corre pelos prédios, antes de se tornar o Homem-Aranha – este primeiro capítulo da franquia do escalador de paredes é um ótimo programa para quem gosta de uma aventura divertida e com algum conteúdo. Raimi fez questão de abordar a relação pai e filho para incluir profundidade aos personagens, conseguindo ser bem sucedido em seu intento. Não fosse a lambança no terceiro filme e, talvez, estaríamos hoje esperando ansiosamente pelo quarto capítulo da franquia, ainda com o time original à bordo. Uma pena.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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