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Sinopse

Skeeter vive nos conturbados anos 1960. Jovem branca da alta sociedade sulista, ela retorna para casa após formar-se na universidade, decidida a ser uma escritora. Para a surpresa dos amigos e vizinhos, decide entrevistar mulheres negras que passaram a vida como empregadas de famílias brancas.

Crítica

Como um filme completamente mediano como esse Histórias Cruzadas conseguiu se firmar como um dos maiores destaques do último ano? Talvez essa seja uma das questões mais intrigantes no cenário cinematográfico de 2011. Afinal, o longa dirigido pelo quase estreante Tate Taylor (quem?) teve um orçamento até baixo para os padrões hollywoodianos e acabou sendo uma das maiores surpresas nas bilheterias de todo o mundo, além de estar se firmando como um dos favoritos nas premiações de final de ano, despontando como um dos prováveis campeões de indicações ao próximo Oscar. E há algo nele que justifique todo esse alarde? Qualquer análise mais apurada irá confirmar que, infelizmente, não.

Certos filmes provocam mais impacto por elementos além daqueles fílmicos que podem ser percebidos na tela grande durante a projeção. São obras que falam com sentimentos, com movimentos sociais, que despertam a atenção de minorias e que terminam por movimentar grupos organizados, gerando uma comoção que até impressiona, mas que em termos reais é bem menor do que se poderia supor. E este é, definitivamente, o caso. Histórias Cruzadas é somente mais um longa sobre o racismo nos Estados Unidos durante a primeira metade do século XX, como tantos outros já vistos e produzidos nas últimas décadas. O que ele apresenta de novo? Absolutamente nada. Mas foi lançado no meio do ano, no meio de toda a parafernália dos blockbusters de super heróis e mega orçamentos, num país com um presidente negro, entre crises e controvérsias. E trata-se de uma trama bastante humana, em que o que importa são as pessoas e seus sentimentos. É um filme bonito, comovente até. Mas não mais do que isso.

Tate Taylor era mais conhecido, até então, por seu trabalho como coadjuvante em filmes como Inverno da Alma (2010) ou em pequenas participações em séries como Queer as Folk (2000-2005) ou A Sete Palmos (2001-2005). Estreou como realizador com o inédito por aqui Pretty Ugly People (2008), e agora atinge o grande público com esse Histórias Cruzadas. Aqui ele contou com a ajuda de sua atriz favorita (Octavia Spencer), com três nomes jovens em ascensão em Hollywood (Emma Stone, Jessica Chastain e Bryce Dallas Howard) e um trio de veteranas de prestígio (Viola Davis, Allison Janney e Sissy Spacek). O resultado é bonito, mas não chega a impressionar em nenhum instante. Isso porque o diretor segue a cartilha passo a passo, fazendo tudo direitinho, mas sem inovar ou arriscar num momento sequer. É tudo tão previsível e quadradinho que chega a cansar.

Skeeter (Stone, a verdadeira protagonista) é uma jornalista que volta para casa após terminar a faculdade em busca de um emprego. Ela encontra uma oportunidade ao se dedicar ao projeto de escrever o que acontece com as ajudantes negras das famílias no sul dos Estados Unidos. São mulheres que fazem absolutamente tudo – cozinham, passam, arrumam as casas, cuidam dos filhos – para os patrões, ao mesmo tempo em que sofrem forte preconceito – como, por exemplo, serem obrigadas a usarem um banheiro próprio, fora da residência. Aibileen (Viola) e Minny (Octavia) são duas dessas serviçais, as primeiras que se dispõem a registrar suas trajetórias, percalços e vitórias. O lançamento do livro irá provocar, obviamente, um escândalo naquela pequena sociedade, atingindo principalmente a racista Hilly Holbrook (Howard).

Histórias Cruzadas recebeu cinco indicações ao Globo de Ouro, inclusive para Melhor Filme – Drama, Atriz – Drama, para Viola Davis, e Atriz Coadjuvante, para Jessica Chastain e para Octavia Spencer. É bem provável que estes mesmos reconhecimentos sejam obtidos no Oscar, e também em categorias como Roteiro Adaptado, Fotografia, Direção de Arte e Figurino. Tudo, obviamente, um grande exagero. O filme é um bom entretenimento, e não mais que isso. Como uma Sessão da Tarde que vemos no verão, durante as férias, e logo esquecemos. Ou como um passatempo para se assistir durante uma viagem de avião – como foi meu caso – e nada mais. De resto temos atrizes que já fizeram muito mais, e melhor – Viola em Dúvida, Emma em A Mentira, Jessica em A Árvore da Vida – e uma trama que já foi repetida tantas vezes que chegou a perder sua força. Tão bonito quanto esquecível.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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