Crítica

Quando vemos as notícias na TV, quase sempre há algo sobre uma bomba que explodiu em determinado lugar ou conflitos que tiraram as vidas de várias pessoas a cada dia que passa. E os Estados Unidos estão envolvidos em praticamente todos esses eventos, direta ou indiretamente. No entanto, não ficamos cientes de toda a carnificina envolvida nisso. Há coisas que ganham pouca atenção por parte das pessoas ou são até ignoradas, e é exatamente esses pontos que o repórter investigativo Jeremy Scahill tenta trazer à tona em Guerras Sujas, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2014.

Dirigido por Rick Rowley, Guerras Sujas acompanha Jeremy Scahill em suas passagens por países como Afeganistão e Somália, onde ele mostra as situações desses lugares diante do poderio militar americano presente por ali, mais especificamente o grupo secreto JSOC (Joint Special Operation Comand, ou Comando de Operações Especiais Conjuntas), cujos membros são vistos como heróis por boa parte dos americanos por serem os responsáveis pela morte de Osama Bin Laben. Mas Scahill lidera uma verdadeira investigação para mostrar que o JSOC comete várias atrocidades contra a população daqueles países, agindo quase como juízes, júris e executores, chegando a ponto de matar pessoas inocentes sem muito propósito, inclusive cidadãos americanos. Tudo isso com o governo de Barack Obama dando apoio e liberdade para que façam aquilo que quiserem, uma prova de que o jeito de bom moço do presidente é uma espécie de máscara.

Como toda boa investigação, Guerras Sujas desencava informações que sempre acabam levando a outros detalhes que ajudam Scahill a se aprofundar ainda mais naquilo que busca retratar. A cada descoberta feita pelo repórter, mais revoltante fica a situação daqueles países. Como quando vemos um vídeo no qual um grupo de soldados americanos aparece diante dos corpos baleados dos membros de uma família, discutindo uma versão dos fatos na qual eles não seriam os responsáveis pelas mortes. Algo decepcionante é o fato de Scahill tentar revelar isso em rede nacional e ser totalmente desacreditado, o que podemos ver no momento em que ele aparece em alguns talk shows diante de figuras que não se importam com o que ele tem a dizer. E por continuar seu trabalho, mesmo que no fim não consiga chamar a atenção de ninguém, Scahill revela o quão grande é sua determinação.

Por estarmos falando de uma investigação, Rick Rowley acerta em cheio ao trazer um formato de thriller que combina perfeitamente com a narrativa, o que é ressaltado, por exemplo, pela fotografia mais granulada nos momentos em que algumas pessoas aparecem respondendo perguntas para Scahill (pessoas estas que quase sempre estão claramente escondendo informações). Enquanto isso, a narração em off do repórter é importante por criar um certo diálogo com o espectador e conduzi-lo diante de tudo aquilo calmamente.

É bom ver que Guerras Sujas está ganhando algum reconhecimento em premiações. Trata-se de um documentário extremamente relevante, que aponta para uma série de assuntos e fatos que todas as pessoas deveriam saber. Mas o que o filme mostra pode ser apenas uma parte de algo muito maior. E se o que vemos aqui é chocante o bastante, imaginar o resto acaba sendo uma tarefa aterrorizante.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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