Guarani
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Sinopse
Crítica
Atílio (Emilio Barreto) é um velho pescador que sempre sonhou em passar todo o seu conhecimento do ofício e sua cultura guarani para seu filho homem. Quis o destino, no entanto, que todos seus descendentes fossem mulheres. Dentre seus entes mais próximos está sua neta, Iara (Jazmin Bogarin), uma adolescente florescendo, quem ele trata como um garoto. É ela quem o ajuda no barco, embora a relação entre os dois não seja das mais amistosas. Ele quer um neto. Quando ele descobre que a mãe de Iara, residente em Buenos Aires, está grávida de um menino, ele parte para uma jornada junto da menina para trazê-la ao Paraguai, para que seu tão sonhado neto venha ao mundo em sua terra. Essa, em poucas palavras, é a história do ótimo drama Guarani, longa-metragem de estreia do cineasta Luis Zorraquin.
Com dois personagens fortes e uma jornada compreensivelmente emotiva por um laço – não apenas familiar, mas cultural, Guarani se mostra um filme que elabora muito bem seus conflitos e tem em seus protagonistas seu grande trunfo. Emilio Barreto vive aquele senhor com intensidade ímpar. Atílio nunca quis aprender o espanhol – embora entenda o que as pessoas falam, segundo sua neta – mantendo-se arraigado em sua terra e seus costumes. Dono de um barco velho, com um motor que sempre falha, aquele homem embrutecido pelo tempo chegava ao ato final de sua vida sem realizar um de seus maiores desejos, passar a cultura guarani para um descendente homem. Quando a chance chega, ele larga tudo por essa oportunidade. O que Iara não entende é o porquê da necessidade de mais um homem na família. Ela estava ali, pronta para ajudá-lo, pronta para receber os ensinamentos do velho. “É a mulher quem dá à luz”, ela diz. “Mas sem o homem a mulher não consegue reproduzir”, retruca o senhor. É uma batalha entre o velho e o novo e a viagem surgirá como um potencial campo de reconciliação entre aqueles dois.
Emilio Barreto é destaque, mas Jazmin Bogarin não fica atrás. A jovem atriz dá vivacidade, certa ingenuidade e muita força para Iara. A personagem está chegando em um momento em que sua vontade é ser a menina que sempre foi. Se vestir como tal, ser tratada como tal pelo avô. Sua mudança não é bem vista e, muito por isso, aquela viagem em busca de sua mãe distante pode ser uma oportunidade de ser quem ela queria ser. Aquela jornada a ensinará a respeitar a cultura do avô, mas também conseguir se desvencilhar do que tanto a incomodava. Era lógico que Iara era um corpo estranho naquele local – sua escolha musical em seu fone de ouvido mostrava-se óbvia a ruptura com aquele lugar calmo e isolado. Uma viagem a Buenos Aires poderia lhe fazer bem.
Road movie por excelência, Guarani acaba lembrando Central do Brasil (1998) em alguns momentos. O contato de uma pessoa mais velha com alguém mais novo; um à procura de um ente querido, outro à procura de uma salvação; uma jornada difícil, sem dinheiro, com encontros casuais que os impulsionam ao término da viagem. Não se sabe se a obra de Walter Salles serviu de inspiração para Luis Zorraquin, mas as semelhanças são diversas.
Com bom andamento e um interessante desenvolvimento de personagens, que vão desvelando suas camadas em frente ao espectador no decorrer da trama, Guarani se torna uma feliz surpresa, uma co-produção entre Paraguai e Argentina que gera um fruto intenso e muito bem realizado. De dramaticidade potente e socialmente relevante.
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