Grandes Garotos

12 ANOS 95 minutos
Direção:
Título original: Les Gamins
Gênero: Comédia
Ano:
País de origem: França

Crítica

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Sinopse

Thomas acabou de se tornar noivo e conhece o futuro sogro, Gilbert, que está há trinta anos casado com Suzanne. Gilbert está desiludido e se convence de que deixou a vida passar por causa do casamento. Ele dissuade Thomas a se casar com sua filha e lhe propõe que abandonem tudo para adotar uma vida de aventuras e peripécias, convencidos de que este é o caminho da liberdade. Mas retomar os sonhos de adolescente tem seu preço.

Crítica

É notável o que o diretor estreante Anthony Marciano consegue fazer em Grandes Garotos. O cineasta – que assina o roteiro ao lado do ator Max Boublil – consegue dar um verniz em temáticas batidas, transformando uma comédia romântica usual em um programa bastante divertido. No filme, temos a crise dos 50 anos, as pressões do casamento, o músico que sonha em fazer sucesso, a mulher que trabalha demais enquanto vê seu namorado, irresponsável, empurrar a vida com a barriga. Ou seja, temas que já foram abordados diversas vezes em outras produções. O que diferencia este filme dos demais são as minúsculas mudanças e o clima de brincadeira que surge através da performance do elenco – que parece estar se divertindo tanto quanto o espectador.

Na trama, Thomas (Boublil) é um músico amador, cantor de casamentos, que sonha com uma carreira musical profissional. Durante um trabalho, conhece Lola (Mélanie Bernier), com quem logo engata um romance. Os dois são bastante diferentes, mas tem um relacionamento ótimo – com Lola sendo bastante compreensiva em relação aos trabalhos e a bagunça na vida do namorado. Quando Thomas resolve propor Lola em casamento, é chegada a hora de o rapaz conhecer os pais da noiva. E a situação não é das melhores. Gilbert (Alain Chabat) vendeu recentemente sua empresa e passa seus dias no sofá, deprimido, olhando televisão.

Enquanto isso, sua esposa, Suzanne (Sandrine Kiberlain), pensa mais nos famintos de Burkina Faso do que nas pessoas a sua volta. A aparição daquele rapaz jovem acende uma luz em Gilbert que decide recuperar o tempo perdido. Vivendo uma legítima crise dos cinquenta anos, ele larga a esposa e passa a viver seus dias em um apartamento minúsculo, gastando dinheiro e se divertindo. Se não bastasse isso, Gilbert tenta persuadir Thomas a não se casar com a filha, apontando como um erro o casamento. Resta ao jovem músico decidir se segue os conselhos do seu futuro ex-sogro ou se continua o relacionamento com Lola.

Quando Grandes Garotos inicia, Anthony Marciano nos leva a crer que fará mais uma daquelas comédias batidas nas quais o sogro e o genro passam o filme às turras. E é uma lufada de ar fresco observar que o filme, depois de sua primeira cena entre os dois, se afasta tanto disso quanto pode. Thomas e Gilbert falam a mesma língua, tem o mesmo senso de humor estranho e são, como diz o título, garotos grandes. É verdade que o relacionamento entre os dois muda da água para o vinho em poucos minutos, o que soa um tanto forçado. Mas logo que Alain Chabat e Max Boublil começam suas peripécias, o espectador começa a acreditar naquela amizade e o filme só cresce. Isso graças à ótima química entre os dois. Uma amizade sem pieguice, com cada um tirando sarro da cara do outro sempre que pode.

Gilbert vive uma impactante crise da meia idade. Esbanja dinheiro em bugigangas, bebidas, mulheres. Tudo do bom e do melhor. Thomas, por sua vez, parece viver o mesmo colapso de forma adiantada. Ao se enxergar no sogro, passa a viver uma vida adolescente que não tinha ao lado da namorada. Como se o rapaz estivesse adiantando sua crise – ou vivendo outra, dos trinta anos. Muitos certamente conseguirão se identificar com os dramas da dupla, com as pressões dos relacionamentos e como é fácil pensar que o erro está no outro.

Com boas piadas e duas ótimas atrizes servindo de escada para os protagonistas, Grandes Garotos soa como uma comédia contra matrimônios que acaba pregando exatamente o contrário até o seu desfecho. Gilbert mostrava-se sufocado no casamento até perceber que não prestava real atenção na esposa. Thomas se sentia impelido a abandonar seus sonhos sem nunca sua noiva pedir isso a ele. Pressões que surgem na mente dos personagens, que não necessariamente são colocadas ali pelos seus cônjuges. Quando cada um se dá conta disso, pode ser tarde demais. Afinal de contas, a fila anda.

Existe um lado musical bastante forte em Grandes Garotos, com a jornada de Thomas à procura do sucesso como cantor. Aproximando-se de comédias americanas como Letra e Música (2006), o filme inclusive coloca uma jovem estrela da música (com temperamento explosivo) no caminho de Thomas, que escreve uma canção açucarada e infantil chamada Je t’aime, um hit em potencial na voz da jovem estrela. Mas não é isso que aquele cantor de casamentos gostaria de ter no início de sua carreira. Seu sonho era um dueto com Iggy Pop, músico que fez diferença em sua vida. Mas nada é tão fácil – ou é? Uma participação especial impagável responde a esta pergunta e deve fazer a alegria dos fãs de rock.

Anthony Marciano se mostra um diretor competente em sua primeira incursão cinematográfica, conseguindo manter um bom ritmo para a trama. Ter um quarteto talentoso nos papéis centrais ajuda bastante. E um roteiro que diverte também. Grandes Garotos podia ficar sem lição de moral no final, mas não perde muitos poucos por conta disso. Seus personagens são cativantes e a jornada por que passam é sempre interessante, o que garante ao espectador um passatempo de qualidade.

Rodrigo de Oliveira

é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.

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