Crítica

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Em Israel é lei: todo homem precisa servir durante três anos o exército. Depois desse período, eles ainda ficam na reserva, podendo ser chamados caso algo de mais grave aconteça e seja necessário seus serviços. O diretor israelense Boaz Armoni acabou de deixar para trás esse passado militar e resolveu contar uma história nos cinemas baseada nessa experiência. Claro que, como enveredou para o gênero fantástico, muito do que acontece ali não se deu na vida real. Mas é interessante saber deste background do cineasta na hora de assistir ao divertido Freak Out.

Na trama, assinada por Lior Lederman, acompanhamos a trajetória do jovem Matan (Itay Zvolon), um sujeito que trabalhava em serviços de escritório para o exército e se vê obrigado a cumprir uma semana de trabalhos em uma zona afastada da cidade. Junto dele, três soldados estão escalados, os amigos Uzi (Assaf Bem-Shimon), Ishay (Eran Peretz) e Roy (Ofer Ruthenberg), que estão determinados a fazer com que Matan coma o pão que o diabo amassou, apenas por ser diferente dos demais. Quando chegam ao local de trabalho, encontram o preguiçoso responsável pelo local, Stas (Kye Korabelnikov). Ele explica o que devem fazer – manter sempre a antena funcionando e cuidando do espaço para evitar invasões de possíveis inimigos. As regras importantes são: nunca entrar no seu quarto e jamais adentrar no bunker. Algo que, óbvio, será feito até o final do filme. Matan não suporta o primeiro dia no local e a atitude de seus companheiros para com ele. Quando os soldados e Stas escapam para uma noitada e deixam o rapaz sozinho, ele tem certeza de que deverá denunciá-los. No entanto, um grupo estranho invade o local e transforma o nerd Matan para sempre.

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Produção de baixo orçamento e filmada em apenas 12 dias, Freak Out utiliza de criatividade para construir sua atmosfera. De gênero fantástico, pendendo para o slasher a partir do terço final, o longa se revela uma comédia deliciosa em suas duas primeiras partes. O humor vem das diferenças entre Matan e os demais companheiros e à preguiça de Stas em ser um comandante mais ativo. O local onde montam guarda é tido como perigoso pela radiação da antena e ficar muito tempo próximo dela acaba sendo prejudicial. Stas divide o comando com Adam, um sujeito linha dura que não deixa pedra sobre pedra quando está no trabalho – completamente diferente de seu companheiro. O filme é esperto em mostrar essas diferenças entre os dois personagens, mesmo que Adam só dê as caras ao final, em um twist curioso do roteiro. Quando vira um slasher, a produção mostra a que veio, pontuando cada uma das pistas que havia deixado no caminho e provando ter um roteiro bem desenhado e amarrado.

Boaz Armoni, em seu primeiro longa-metragem, mostra talento como diretor de uma produção de gênero. Muitos slashers apostam na comédia (ou na sexualidade) em seus primeiros atos para fazer o contraponto ao terror da sua parte final, algo feito com maestria neste trabalho. Além disso, Armoni prova ser um bom diretor de atores, com todos os cinco personagens principais em performances destacáveis. Claro que os elogios maiores caem ao protagonista, Itay Zvolon, que consegue convencer como um nerd indefeso, muito embora seja um cantor de banda punk na vida real. Em Israel, também virou um famoso Youtuber, com sua fama ajudando na promoção do filme. Kye Korabelnikov também merece menção dada a sua transformação no decorrer da história.

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Curto e bem concebido, Freak Out é um bom exemplar do cinema de gênero vindo de Israel, país que vem mostrando um aumento da produção cinematográfica nos últimos anos. Exibido durante a 12ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa, e integrante de outros eventos importantes como o Jerusalem Film Festival e o Sitges Film Festival, o longa-metragem é o filme de estreia de um cineasta promissor, que tem tudo para mostrar outros bons trabalhos no futuro.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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