Crítica

A passagem da adolescência para a idade adulta já foi tema de diversas histórias levadas ao cinema, desde dramas profundos até comédias escrachadas. Estas últimas, particularmente, parecem ter se tornado uma especialidade hollywoodiana. E depois de Projeto X (2012), ganha as telas esse Finalmente 18, que é praticamente um remake do longa do ano passado. Porém, com um pequeno – e importante – detalhe: sem a ousadia do anterior. Como resultado, portanto, temos mais do mesmo.

Se piada velha é pior do que comida requentada, Finalmente 18 se transforma em um constrangimento ainda maior para qualquer espectador que tentar descobrir o significado do título nacional. Ou seja, a adaptação foi ainda mais danosa do que a proposta original. Afinal, está se falando do alcance da maturidade que, legalmente, nos Estados Unidos se dá aos 21 anos de idade. É por isso que longa foi batizado como 21 and Over, ou seja, 21 e Acima. Mas no Brasil essa fase “de maior” se dá antes, aos 18, e daí a grande sacada da “tradução”. Só com um porém: a mudança deu-se apenas nos cartazes, pois durante todo filme se fala do fato do personagem estar fazendo 21 anos, e não 18. Era muito complicado chamá-lo de Finalmente 21??

Não há nada minimante inspirado neste Finalmente 18. Qualquer pessoa que tenha assistido a filmes como Porky’s (1982), American Pie (1999) ou até mesmo A Casa das Coelhinhas (2008) sabe de antemão tudo o que esse roteiro reserva aos seus incautos espectadores. Os personagens não são mais do que meros estereótipos, as confusões em que se metem durante uma única noite são apenas armações do enredo para que a trama se desenvolva, ainda que de forma episódica e sem muita conexão entre cada evento, e a conclusão é tão previsível que nos primeiros 15 minutos de projeção já sabemos exatamente tudo o que acontecerá, e com quem.

Senão, vejamos: Miller (Miles Teller, visto também em... Projeto X!) é o rebelde que só quer zoar. Ele se encontra com o certinho Casey (Skylar Astin, do igualmente adolescente A Escolha Perfeita, 2012), e dois vão à casa de Jeff Chang (Justin Chon, de Crepúsculo, 2008, compondo o elemento étnico do elenco), que está comemorando seus 21 anos. Ele tem uma importante prova para ser admitido na faculdade de medicina no dia seguinte, mas isso não os impedirá de irem a todos os bares e beber até cair, tudo o que lhes era proibido até a noite anterior.

Os problemas, de fato, começam quando, lá pelas tantas, Jeff Chang fica inconsciente, e os outros dois desconhecem o caminho de volta para casa. Em busca de pistas que lhes deem uma noção de onde estão e que os ajudem a estarem prontos para o compromisso de manhã cedo, os garotos terão que contar com a ajuda de estranhos, vencer as dificuldades mais óbvias – como lidar com o namorado valentão da garota pela qual um deles está apaixonado – e  se meter em novas trapalhadas. Tudo, é claro, dentro de um rígido cronograma em que o final feliz só não acontecerá se não quiserem.

Como o espectador médio, em sua maioria, gosta de ver exatamente o que já espera, Finalmente 18 foi um relativo sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, onde faturou quase o dobro do seu orçamento de meros US$ 13 milhões. Ainda assim, o que mais impressiona é perceber que foram necessárias duas pessoas – Jon Lucas e Scott Moore (roteiristas da trilogia Se Beber Não Case, aqui estreando como realizadores) – para refazer algo que já foi visto tantas vezes antes, e melhor. Com muito esforço e boa vontade, até pode funcionar como passatempo, mas não por mais do que 18 – ou 21 – minutos!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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