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Sinopse

Os amigos Juliano e Joaquim deixam São Paulo rumo à Floresta Amazônica como outros milhares de homens, repletos de sonhos e ilusões. Mas a vida no garimpo muda tudo. A obsessão pela riqueza e pelo poder os destrói. Juliano se torna um gangster. Joaquim deixa seus valores para trás. Uma história sobre a febre do ouro, sobre ganância e violência. Sobre uma grande amizade e seu fim.

Crítica

Serra Pelada é um filme que poderia ser muito pior do que de fato é... mas, por outro lado, sabe-se que poderia ter sido, também, muito melhor. A produção – assinada por, entre outros, Wagner Moura – é grandiosa e impressionante, e oferece ao assunto o tratamento na dimensão adequada. Heitor Dhalia é um diretor experiente, com passagem por Hollywood e já tendo lidado com astros internacionais inclusive no Brasil, mas este, muito provavelmente, é seu projeto mais ambicioso. O desafio era grande, e ele se sai razoavelmente bem ao construir uma história bonita e envolvente, com personagens arquétipos que cumprem seus papéis à contento e dominando uma trama bem estruturada. No entanto, percebe-se em determinados momentos o uso de “redes de segurança”, artifícios que se facilitam a compreensão do enredo por um público mais amplo – e este, ao menos é o que parece, é seu objetivo em última instância – também prejudicam uma diferenciação entre um trabalho bem feito e uma obra destinada a ser referência.

Joaquim (Julio Andrade) e Juliano (Juliano Cazarré) são amigos, no final dos anos 1970, que decidem abandonar São Paulo para irem ao interior do Pará em busca de ouro. É quando é noticiado a descoberta e uma pepita de tamanho recorde na mina de Serra Pelada, em plena Floresta Amazônica. O primeiro deixa para trás a mulher grávida e a atividade como professor, tudo na esperança de ficar rico e poder oferecer à família melhores condições de vida. O segundo, no entanto, foge de dívidas e de uma vida de incertezas. Os dois chegam no começo da febre pela riqueza “fácil”, e, com o passar dos dias, as dezenas de homens que ali se encontram logo viram centenas, para então serem milhares. Eles, então, assumem um pacto de sangue, prometendo ficarem sempre um ao lado do outro, custe o que custar.

É claro que esse compromisso não irá durar muito tempo. Enquanto Joaquim é determinado e sabe o que está fazendo ali, Juliano se realiza – e se corrompe – com o poder. As coisas começam a funcionar para eles, o dinheiro aparece, e enquanto um guarda tudo o que pode para realizar seu sonho, o outro gasta em mulheres, brigas, bebidas e tráfico. A partir do momento em que a própria confiança entre os amigos desaparece, será cada um por si, até que o destino tratará de colocá-los um contra o outro. Ou não.

Juliano Cazarré está muito bem, assumindo sem medos o personagem mais rico em contradições. Julio Andrade, por outro lado, não possui tanto material a sua disposição, mas mesmo assim cumpre com seriedade o que lhe é esperado. Matheus Nachtergaele, como um concorrente dos dois na exploração das terras, e Sophie Charlotte, como a mulher que fará Juliano perder a cabeça, estão bem em suas composições, porém suas presenças são mais episódicas do que determinantes. Wagner Moura, que também atua, cria um tipo bastante singular, dono de poucas – porém inesquecíveis – passagens. Pena que a trama não lhe faça justiça até o final, não oferecendo a ele uma conclusão digna de sua relevância.

Muito bem fotografado, com uma assustadora reconstituição de época e uma montagem segura do tamanho de sua pretensão, Serra Pelada peca, por outro lado, pelo uso de uma insistente – e desnecessária – narração em off, que apenas reitera o que já está sendo visto nas imagens. O desenvolvimento da história também é muito ordenado, dentro do esperado, sem grandes surpresas. Trata-se, por fim, de um filme bonito e impressionante, mas não apaixonante. Talvez com Moura e Daniel de Oliveira como protagonistas (as escolhas iniciais) o resultado tivesse sido diferente. Mas determinante, mesmo, seria uma maior coragem e ousadia na abordagem do tema. Os homens que acreditaram que Serra Pelada poderia mudar seus mundos se atiraram nessa esperança sem amarras, apostando tudo que tinham à disposição. Algo que, definitivamente, não foi feito pelos realizadores deste longa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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