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Sinopse

Deco e Zoé se conheceram quando ele quase atropelou Guto, cachorro que desmaia quando animado. Mas, após um relacionamento de dois anos, eles se separam e Deco tenta tomar as rédeas da situação, além de ficar com o cão.

Crítica

Situação bastante explorada em longas hollywoodianos – Marley & Eu (2008) e Procura-se um Amor que Goste de Cachorros (2005), dentre outros – a relação entre cães e homens, ainda mais se estes últimos estiverem envolvidos em desenlaces amorosos, é tão frequente na tela grande que quase se constitui num subgênero à parte. Por isso mesmo chega a ser curioso perceber como esse material é pouco explorado pelo cinema brasileiro. Bom, mas esse cenário tem tudo para mudar a partir de Mato Sem Cachorro, um filme feito para agradar. E felizmente sua competência é visível, e ainda que não reinvente a roda, ao menos entretém com eficiência.

Com direção do estreante Pedro Amorim – irmão mais novo do veterano Vicente Amorim, diretor de Corações Sujos (2011) – Mato Sem Cachorro marca também a estreia cinematográfica de Bruno Gagliasso, até então acostumado apenas aos palcos e à telinha. Aqui ele é Deco, um DJ desanimado que vê sua vida mudar quando, após quase atropelar um filhote de cachorro perdido, encontra aquela que pode ser a mulher da sua vida, Zoé (Leandra Leal). A paixão que surge entre eles – entre Deco e Zoé e também entre Deco e Guto, o cãozinho – é imediata, e por dois anos eles irão viver juntos como uma família feliz.

Mas o filme de fato começa após essa sequência de eventos – que são dispostos de modo bem resumido, em menos de 20 minutos. É quando nos deparamos novamente no Deco, porém sem Zoé e nem Guto. O casal terminou, e na separação o animal de estimação ficou com ela. Determinado a reconquistá-la, o rapaz parte para um plano absurdo, motivado pelo primo inconsequente (papel que cai como uma luva para o comediante Danilo Gentili): sequestrar Guto, para que ela possa, finalmente, perceber a falta que sente do ex-namorado. Como se pode imaginar, nada acontece exatamente como o planejado – tanto na história como no próprio filme. Os elementos estão todos dispostos nos seus devidos lugares, porém falta ao realizador uma melhor noção a respeito do desenvolvimento de sua trama.

Perde-se tempo demais com o primo – divertido, porém inconveniente pelo uso exagerado de palavrões que emprega numa tentativa desesperada para provocar graça – com o cachorro – que é narcoléptico e, portanto, desmaia sempre que fica muito excitado, o que pode ser engraçado no começo, mas logo se torna um recurso cansativo e irritante – e com o subtexto que envolve as condições profissionais dos dois personagens principais – ela é produtora numa rádio e ele está envolvido com a produção de uma nova banda liderada pelo... irmão dela! Já o que interessa num filme como esse – a atração entre eles, como irão superar suas diferenças para ficarem juntos e as desventuras enfrentadas ao lado de novos parceiros amorosos – acaba sendo relegado por muito tempo, retomando com força apenas no terço final da ação.

Ainda que se desenvolva dentro de um ambiente de fácil reconhecimento aos fãs de comédias românticas, Mato Sem Cachorro possui inegáveis méritos que deverão conquistar os mais resistentes. Além das boas atuações dos protagonistas – principalmente Gagliasso que, por possuir mais oportunidades em cena, compõe um tipo convincente e bastante simpático – há participações especiais hilariantes, como a de Gabriela Duarte – completamente diferente de tudo que já fez na televisão – e, principalmente, da cantora Sandy (o vídeo remix com ela sendo pega alcoolizada numa blitz de trânsito é, simplesmente, impagável – não saia da sala durante os créditos finais!). Rafinha Bastos (contido), Elke Maravilha (irreconhecível) e Flavio Migliaccio (desperdiçado) são, no entanto, o contraponto, marcando presença de modo desnecessário, sem conteúdo disponível para o talento que possuem.

Produção tipicamente carioca, Mato Sem Cachorro comove com o divertido Guto – ele não chega a ser tão estrela quanto o citado Marley, mas possui bons momentos – e ainda entretém com um casal romântico que realmente funciona, graças acima de tudo à boa química que se percebe entre Bruno e Leandra. Pode ser pouco para termos mais um campeão nacional de bilheteria – ultimamente, a impressão que se tem é que toda comédia por aqui tem que provocar filas nos cinemas para que se justifique. Mas também não provoca constrangimentos – ainda que passe por terrenos perigosos, como piadas com anões, mulheres desbocadas e corridas de sunga. Um bom exemplo de realização voltada para um público específico, que sabe que não precisa ser genial, mas também não chega a ser desleixada, atendendo as expectativas e ainda oferecendo uns mimos a mais. O que, neste caso, já está de bom tamanho.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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