Crítica


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Sinopse

O jovem Manolo tem dúvidas entre cumprir as expectativas impostas por sua família de toureiros ou seguir a vontade de seu coração - que leva à música. Tentando se decidir, ele embarca em uma viagem por três diferentes mundos: o dos Vivos, o dos Esquecidos e o dos Eternizados. Ele encontra figuras marcantes e conta com o apoio do amigo Joaquin e da amada Maria.

Crítica

Não estranhe se, lá pelas tantas, Festa no Céu lembrar animações de Tim Burton como A Noiva Cadáver (2005) e Frankenweenie (2012). Tendo como pano de fundo a celebração do dia dos mortos da cultura mexicana, o longa mexe com o submundo e tem personagens carregados na esquisitice. O diferencial em relação aos trabalhos do norte-americano é que o filme produzido por Guillermo del Toro é recheado de cores, de vivacidade. Nada mal para um estreante em longas como Jorge R. Gutierrez.

A história é difícil de simplificar, mas basicamente narra a aposta de La Muerte (entidade que, ao contrário do que o nome possa sugerir, é reverenciada pelos mexicanos) e seu amante Xibalta. Ela acredita que Manolo, um toureiro sensível, ficará com Maria. Já ele acredita que quem conquistará a garota definitivamente será Joaquin. O triângulo amoroso foi formado quando os três ainda eram crianças e ganha maiores contornos quando um dos rapazes, por trapaça, acaba morrendo e precisa cumprir tarefas para voltar à vida.

E como é bom ver criatividade novamente após um ano fraco de animações. Se por um lado o roteiro pode até ficar confuso devido ao excesso de personagens, as cabeças pensantes por trás do projeto deram um jeito relativamente inovador e belíssimo de contar esta história em três partes. No início vemos personagens humanos mais tradicionais, afinal, eles são “do nosso mundo”. Quando eles leem o Livro da Vida que dá título original ao filme, somos transportados para um mundo onde as pessoas parecem bonecos. Quando, enfim, chegamos ao mundo dos mortos, tudo ganha cor e novas perspectivas. Um belíssimo trabalho técnico.

Esta comédia romântica ainda guarda outro gênero comum nas animações: o musical. A trilha sonora original é composta pelo vencedor do Oscar Gustavo Santaolalla, mas há nas canções reinterpretadas pelos mariachis mexicanos o grande destaque, mesmo que a versão dublada acabe prejudicando algumas. O destaque vai para a regravação de Creep, do Radiohead, que resume a paixão do protagonista por Maria em um verso (traduzido livremente): “Eu quero que você perceba, quando eu não estiver por perto, que você é especial demais e eu queria ser especial. Mas sou um estranho, uma aberração, que diabos estou fazendo aqui? Eu não devia estar aqui.” Romântico e deprimente, como a morte pode ser.

Festa no Céu é a típica animação que diverte tanto pequenos quanto adultos sem medo. Ainda que trate o mundo dos mortos de forma leve e celebre a reinvenção da vida através dos percalços do submundo, nada pode ser interpretado de forma literal. O assunto pode ser complexo, mas não cabe discuti-lo de forma aprofundada num filme do gênero. Acima de tudo, o longa revela o talento de um novo diretor que, se continuar neste caminho, vai entregar mais belos trabalhos no próximo ano. Sangue novo e criativo é o que falta no cinema atualmente. Vaga que Jorge R. Gutierrez pode ocupar com tranquilidade até então.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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