Feriado
Crítica
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Sinopse
No carnaval de 1999, dias antes do colapso do sistema bancário do Equador, Juan Pablo, um adolescente da elite equatoriana, viaja para a fazenda de sua família nos Andes, onde seu tio se refugiou com esposa e filhos após um escândalo de corrupção. Lá conhece Juano, um motoqueiro indígena que mora em um povoado vizinho, é fã de heavy metal e ganha a vida consertando pneus. Juano abre os olhos do garoto para um universo novo e libertador. Enquanto sua família caminha em direção a uma crise irreversível, Juan Pablo ruma ao (des)encontro do primeiro amor.
Crítica
Países que não possuem uma cinematografia reconhecida internacionalmente acabam se destacando, vez que outra, graças a talentos individuais. É o caso do Equador, de onde o longa mais conhecido talvez seja Crónicas (2004) – recomendado, inclusive, na nossa Copa de Cinema – que chegou a circular por alguns festivais de peso, como o de Cannes. Pois uma década depois outra obra vinda desta pequena nação conseguiu novamente despertar o interesse e a curiosidade dos cinéfilos mais antenados: Feriado, trabalho de estreia do diretor e roteirista Diego Araujo que acabou sendo selecionado para o Festival de Berlim. E a repercussão, felizmente, verifica-se na tela ser merecida.
Juan Pablo (Juan Arregui) é um jovem de classe média alta de Quito que é convidado a passar um feriado de final de semana com os primos, na casa de férias dos tios na serra. O que tinha tudo para ser apenas uma válvula de escape da rotina escolar e familiar – um programa diferente, portanto – acaba se revelando uma experiência transformadora. E não só no íntimo do garoto, como para os parentes e os demais próximos. Afinal, estamos falando de um lugar de alta desigualdade social e graves problemas políticos – em 2015, quando o Papa Francisco decidiu dar início a uma série de visitas pelos “países pobres” da América Latina, escolheu o Equador como ponto de partida. E o momento conturbado vivido nas ruas é aproveitado como reflexo para o que se está passando também no âmago do protagonista.
A partir de uma situação verídica vivida pelo próprio realizador quando na idade do seu personagem, Juan entra em contato com Juano (Diego Andréas Paredes), um rapaz mais velho que é o seu oposto em tudo: descolado e ciente de suas limitações socioeconômicas, aproveita com impressionante intensidade o que está ao seu alcance, enquanto vai levando a vida da melhor maneira possível, ainda que de tempos em tempos isso signifique riscos mais perigosos. Este flerte com o proibido e pelo prazer de simplesmente existir atrai com tamanha força o jovem acabrunhado que este não conseguirá mais se imaginar longe do novo amigo. E disso para que os limites entre admiração e desejo se confundam é um passo, levantando questionamentos que até então lhe eram desconhecidos, mesmo que num nível inconsciente.
Ao mesmo tempo em que as certezas ao redor do protagonista vão aos poucos se desfazendo, novas surgem para ocupar esse espaço e apontar ao garoto caminhos diferentes e mais excitantes. Posicionando-se além do gueto reducionista do rótulo do “filme gay”, Feriado assume-se com tranquilidade e segurança como uma jornada de amadurecimento e transformação. O bom desempenho dos dois atores principais – ambos estreantes – e o texto preciso do realizador, que não evita os conflitos já esperados, ao mesmo tempo que consegue abordá-los com cuidado para driblar dos clichês mais comuns ao gênero, fazem deste filme uma pequena surpresa, apontando para uma reflexão necessária cuja origem geográfica poucos reconheciam, mas que a partir desse contato passarão a considerá-la com maior atenção.
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