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Sinopse

Três irmãs moram em Nova Jersey. A mais velha é casada com um psicoterapeuta pedófilo; a do meio é ninfomaníaca; e a caçula tenta vencer a timidez com as canções que ela compõe.

Crítica

Felicidade é um retrato da vida nos subúrbios norte-americanos e apresenta o cotidiano de um grupo de pessoas interligadas por relações afetivas, familiares ou amigáveis. Todd Solondz apresenta através deste filme exemplar uma dura crítica ao convencionalismo americano e a inegável decadência do que já foi vangloriado como o american way of life. A complexidade dos personagens em Felicidade é abissal, e a conexão entre o expectador e qualquer uma daquelas pessoas, talvez não por se comparar com elas (afinal, quem o faria?), mas por possuir certa familiaridade com os tipos apresentados, cria um impasse na mente de quem assiste a esta grande obra: eles são realmente culpados pelo que fazem ou são pessoas que apenas seguem seus instintos? Um detalhe interessante no filme é sugerido pelo título. O espectador certamente sairá da sessão questionando quem é feliz em toda esta trama.

A análise de Solondz não é em nenhum momento superficial, e surpreende pela importância empregada até mesmo para com personagens de pouca participação ou relevância em sua história. Cada tipo se mostra omisso para o convívio em sociedade, exceto Joy, que é extremamente sincera com todos que a cercam, assim como Kristina e Timmy. Os temas abordados por Solondz não poderiam ser mais controversos, e o diretor e roteirista insere em seu enredo diversos párias da sociedade, incluindo em sua história um estuprador, um assassino e um pedófilo. Como diretor, Solondz se utiliza de poucos artifícios não convencionais, mas é notável que seja exatamente o que o diretor busca para a estética de seu filme. A trilha sonora de Felicidade evidencia a intenção de mostrar todas as situações presentes em seu roteiro como se o diretor estivesse vendendo o estilo de vida daquelas pessoas, como em uma propaganda da família norte-americana perfeita. E também fica evidente a repulsa com que se é encarada a face de cada um dos personagens quando estão sozinhos, fechados em seu íntimo. Solondz privilegia o talento dos atores com a riqueza de seu texto e personagens, utilizando sequências com câmeras paradas e diversos cortes habituais para cenas de diálogo. Pode não ser muito inventivo, mas atinge seu objetivo de forma singular.

Entre seus maiores méritos, pode-se dizer que o elenco de Felicidade é excepcional. Philip Seymour Hoffman tem um de seus melhores desempenhos, assim como Lara Flynn Boyle, que constrói Helen com uma personalidade incrível, mesmo com sua pouca participação. Mas o duo que compõe a narrativa crucial da história, que ganha uma das sequências finais do filme, é composto por Dylan Baker e Justin Elvin. Os diálogos entre pai e filho sempre sinceros são comoventes e quase irreais, e a última interação entre ambos figura desde então como uma das melhores que o cinema, no extremo de sua simplicidade, já apresentou.

Vencedor de vários prêmios, Felicidade certamente serviu como inspiração para dois outros filmes muito competentes, que abordam em seus roteiros a vida da família norte-americana de classe média em subúrbios: Beleza Americana (1999), de Sam Mendes, e Pecados Íntimos (2006), de Todd Field. Tais produções são extremamente brilhantes, até em muito mais exaltadas, porém não tiram o mérito maior do trabalho de Solondz, simplesmente por ter sido feito por quem mais entende do assunto. Fato esse que se comprova através de filmes como Bem-Vindo à Casa de Bonecas (1995) ou Palíndromos (2004).

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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