Crítica


9

Leitores


2 votos 9

Onde Assistir

Sinopse

O excêntrico Willy Wonka é dono da maior fábrica de chocolate do mundo, mas desde que espiões entraram e roubaram receitas secretas, teve que fechá-la. O grande sonho do menino Charlie é conhecer o local e ele ganha esta chance quando Willy lança um concurso: cinco barras de chocolate têm um cartão dourado, que permitirá aos vencedores visitar as grandiosas instalações.

Crítica

Hoje estabelecido como um dos grandes longas de fantasia da cultura pop, chega a ser cômico pensar que A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971) foi planejado pela Wolper Pictures mais para alavancar a venda de uma nova linha de chocolates da marca Quaker - que atuou como investidora da aposta - do que para louvar a obra do escritor Roald Dahl. Mas o destino, sempre imprevisível, acabou reservando, na época, pouca adesão do público ao projeto, tanto nas bilheterias quanto na vendagem de guloseimas. Anos depois, a Warner, enxergando potencial de distribuição, adquiriu os direitos do filme e o tornou sucesso das telinhas mundo afora nas décadas seguintes. Mas, entre tantas outras empreitadas que não tiveram a mesma sorte, qual seria o segredo desta para tamanha repescagem? As cores? O açúcar? As canções? Na verdade, a resposta está visível e possui nome e sobrenome: Gene Wilder. 

Na trama, somos apresentados com paciência à popularidade de Willy Wonka e sua mágica manufatura de doces situada no Reino Unido, com destaque para os mitos que rodeiam a importância do estabelecimento. Essa sedução que o local possui ganha ainda mais notoriedade quando Willy decide convidar cinco crianças para conhecê-lo, tudo por meio de tickets dourados que podem ser encontrados em barras à venda no mundo todo. Entre os que sonham em visitar a fábrica, está Charlie Bucket (Peter Ostrum), menino de classe baixa que será nossos olhos para este instigante devaneio, ao lado do avô, Joe (Jack Albertson), unindo juventude e experiência para provar que sonhos não têm idade. É claro que, dadas as pistas, Charlie atingirá seu objetivo. Mas da forma como a busca pelos bilhetes é construída pelo diretor Mel Stuart, a empatia vai se estabelecendo instantaneamente, tornando a história universal. Anônimos e famosos, pobres e ricos ocupam a tela para nos entreter numa divertida roda da fortuna que contagia sem deixar o tempo pesar. 

Entre alguns anacronismos que hoje podem ser facilmente detectados, afinal estamos falando de um título de 1971, praticamente todas as bases são solidificadas para a entrada do gênio em cena. Willy Wonka é misterioso e impreciso, possui doçura nos olhos, falas firmes e sonha acordado. Salta e dança como criança, mas também se enraivece com facilidade quando percebe desdém. De fato, personagem mobilizador, que posteriormente aguçou a curiosidade artística de Johnny Depp, em A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), e Timothée Chalamet, em Wonka (2023). Porém, aqui está o pioneiro. Wilder surge na segunda metade do filme para tomá-lo de assalto. Trejeitos e sorrisos, aliados a mudanças de humor repentinas, além de diversas outras habilidades, explicam o porquê de seu Willy ter se estabelecido com tanta facilidade no imaginário popular, principalmente para quem foi criança antes dos anos 2000. 

Com essa presença marcante, Gene nos conduz ao próximo magnetismo do longa: enfim, a fábrica. Montados cuidadosamente, os interiores são belos e policromáticos, povoados por Oompa-Loompas, seres nanicos e cantantes que auxiliam Willy na fabricação dos doces. A contemplação da câmera para com o ambiente é tranquila, sem solavancos. Todos precisam estar geograficamente cientes das maravilhas que observam. Verdade seja dita, também, tais encantos físicos custavam alguns milhares de dólares aos produtores da época, sendo assim, necessitavam exposição cautelosa. Aqui, inclusive, cabe ressaltar a magnitude dessas elaborações, hoje feitas de forma inteiramente digital. 

Embora possam ser identificadas ambiguidades da narrativa proposta pelo roteiro escrito por David Seltzer e o próprio Dahl, que se confunde entre aventura, musical e comédia, A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971) gera identificação sincera, muito a partir da decisão consciente de suavizar dualidades éticas e posicionar o herói final, Charlie, numa conjuntura ingênua. Assim sendo, os atributos do garoto se tornam acessíveis, fazendo com que a obra se perpetue como símbolo duradouro de pureza infantil.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios e revistas como colunista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *