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Sinopse

Silmara é uma operária que sustenta o pai, ex-presidiário que teve um incidente com fogo que o deformou. Incentivada a ajudar uma nova colega tímida, Silmara acaba se envolvendo com o seu ídolo musical.

Crítica

Existem filmes destinados a públicos específicos, que não funcionam com outros espectadores. Existem outros que são meramente medianos, que ficam pelo meio do caminho. E há aqueles simplesmente constrangedores. Infelizmente, este é o caso de Falsa Loura. E o que mais incomoda é o fato deste ser o décimo quinto longa-metragem do Carlos Reichenbach, o Carlão, um dos grandes diretores da cinematografia brasileira. Será o fim de uma era?

Isso nos leva a outra questão, volta e meia levantada: terão os mais importantes realizadores prazo de validade? Na história do cinema esse ponto nunca é esquecido, pelo fato de que, muitas vezes, após alcançarem um auge, estes artistas dificilmente conseguem repetir o feito. São poucos aqueles com uma carreira sólida e consistente, como se fossem um gênero à parte o fato de constarem suas assinaturas nestes trabalhos. E assim como o problemático Brasília 18% (2006) marcou o crepúsculo de Nelson Pereira dos Santos, Falsa Loura pode ter o mesmo significado dentro da carreira do Carlão.

Reichenbach tinha um projeto de anos, que dividia em seis filmes histórias de um grupo de operárias do subúrbio paulista. Após o fracasso do primeiro destes longas, Garotas do ABC (2003), que segundo ele não atingiu o reconhecimento que merecia, decidiu fazer apenas mais uma investida, mais uma tentativa de provar sua visão. Falsa Loura é o resultado, e esperamos que agora abandone de vez a idéia. Como ele mesmo afirmou em entrevistas recentes, estes filmes seriam feitos para uma classe social menos favorecida que hoje em dia não vai mais ao cinema, já que estes estão todos reclusos dentro de majestosos shopping centers. E longe da audiência qualquer obra perde seu sentido.

Falsa Loura tem como protagonista Silmara (Rosane Mulholland), moça que trabalha numa fábrica e que sonha com uma vida melhor. Só que ela não fica parada, como suas colegas, e vai tentar alcançar seus objetivos. E estes são conhecer e se relacionar com dois ídolos da música: Bruno de André (Cauã Reymond) e Luís Ronaldo (Maurício Mattar). Porém, ao se envolver com eles, só conhece mais tristeza e decepção. Paralelo a tudo isso há o cotidiano destas meninas trabalhadoras, os problemas familiares, como o pai incendiário e o irmão travesti, o ex-namorado e a amiga patinho feio que é transformada em cinderela.

O maior problema de Falsa Loura é a inconsistência do material apresentado. As atuações são muito fracas – Mullholland, filha do ex-reitor da Universidade de Brasília, é esforçada, mas não tem brilho próprio; Djin Sganzerla, filha do grande Rogério Sganzerla, diretor do clássico O Bandido da Luz Vermelha (1968), é a feia que vira bonita, e chegou a ganhar o Candango de Melhor Atriz Coadjuvante por este desempenho no Festival de Brasília (único reconhecimento do filme), mas na metade final simplesmente desaparece, deixando evidente que o prêmio foi uma nítida consolação; Reymond tem presença, porém seu personagem é mais uma figura do que alguém real, e ainda assim consegue um retorno melhor do que Mattar, que chega a provocar embaraço. Outros tropeços são a direção equivocada de Carlão, que alterna crítica social com videoclipes amadores que provocariam risos em sets universitários; a trilha sonora, baseada no cancioneiro brega deste público, que ao invés de se inspirar nele, sucumbe no seu horror; e, principalmente, o roteiro, escrito pelo próprio diretor, que agrega tantos elementos dissonantes sem harmonia, gerando uma salada sem sentido e confusa, apontando para vários caminhos sem uma conclusão que provoque uma reflexão mais profunda. Fica, assim, entregue ao clichê que pretendia criticar, sem consistência nem impacto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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