Crítica

A ideia não é nada original. Afinal, há apenas dois anos foi lançado o longa italiano Exorcismo no Vaticano (2013), enquanto que até a brasileiríssima Alice Braga já se viu ao lado de Anthony Hopkins em O Ritual (2011), que também tinha uma trama muito similar. Pois a questão das possessões demoníacas está de volta em Exorcistas do Vaticano – um título nacional um tanto absurdo, pois passa a ideia de um grupo ao estilo dos Caça-Fantasmas (aliás, se assim fosse, talvez até fosse interessante). Pelo contrário, o que se tem é bastante genérico, já visto diversas vezes antes: garota passa a ter comportamento estranho, logo um padre surge dizendo que ela necessita de um exorcismo e um especialista é enviado de Roma para dar cabo do coisa-ruim. O que muda aqui, é que... bom, nada. É tudo praticamente igual aos seus similares, em um resultado tão genérico quanto esquecível.

Pois Mark Neveldine, diretor do catastrófico Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (2011) – longa responsável por enterrar de vez a incursão do herói demoníaco da Marvel na tela grande – deixou de lado seu parceiro habitual (Brian Taylor, que assinou a codireção de todos os seus trabalhos anteriores) para assumir sozinho Exorcistas do Vaticano. E se alguém mantinha a esperança de que sozinho ele pudesse se sair um pouco melhor, engana-se. Sua narrativa apoia-se quase que exclusivamente em clichês e obviedades, e toda e qualquer tentativa de susto é produzida por movimentos bruscos de câmera e efeitos sonoros, repetidos à exaustão até o ponto de se tornarem previsíveis e cansativos. Ao pobre do espectador resta apenas contar os minutos até o final desta tortura ou bancar o esperto e cair fora logo dessa furada.

Assim como O Exorcismo de Emily Rose (2005), aqui temos como protagonista uma jovem adorável, Angela (Olivia Dudley, de Chernobyl, 2012, mantendo a mesma expressão por todo o filme), que tem sua vida virada de cabeça para baixo a partir do momento em que é possuída por um espírito do mal. Logo que as coisas começam a ficar estranhas, o pai (Dougray Scott, pagando contas atrasadas) e o namorado dela (John Patrick Amedori, que foi o filho de Bruce Willis em Corpo Fechado, 2000, mas agora cresceu e se tornou um ator inexpressivo) buscam um padre para lhes ajudar no caso (Michael Peña, quase como um figurante de luxo). Ah, e este é latino, assim como em Livrai-nos do Mal (2014). E quando a situação fica ruim de vez e ninguém mais sabe o que fazer com a garota, começam a aparecer nelas as marcas da crucificação de Cristo (ou seja, assim como visto em Stigmata, 1999).

Pra completar a salada, chega direto do Vaticano o todo-poderoso Cardeal Bruun (Peter Andersson, de Os Homens que não Amavam as Mulheres, 2009, que como a maioria dos europeus nórdicos de talento só consegue interpretar personagens estereotipados em Hollywood). Este faz parte de um grupo de religiosos que estudam casos similares ao redor do mundo e, em tese, deveriam saber o que fazer em situações assim (seu colega é o indicado ao Oscar Djimon Hounsou, em participação tão discreta que teria sido melhor nem ter sido creditado). Porém, ao ver o quadro que lhe espera, sabe o que ele decide fazer? Pegar uma faca e assassinar a moça. Bom, é claro que as coisas não serão tão simples assim.

O maior problema de Exorcistas do Vaticano – no original The Vatican Tapes, ou As Gravações do Vaticano, em uma tradução literal – é que este filme não é nenhuma coisa, nem outra. Os tais “exorcistas” se resumem a apenas dois padres, e destes apenas um parte para a ação, e de forma bem atabalhoada. Já sobre as fitas, elas mal aparecem no começo da trama – os registros de possessões, mais uma vez investindo no irritante e desgastado estilo found footage – mas logo são esquecidas, descartadas sem maiores cerimônias. E o que sobra são atores perdidos, uma protagonista sem carisma e um final tão estapafúrdio que gera mais risos do que surpresas. Se a intenção era chocar, tudo o que se consegue é constrangimento e – muitos – bocejos.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *