Crítica


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Sinopse

Adolescente pouco popular na escola e que não tem uma vida tão mais fácil em casa, Christian carrega as preocupações de qualquer jovem: o primeiro beijo, a primeira transa, o respeito dos colegas. E as coisas mudam quando ele começa a gravar uns vídeos para a internet.

Crítica

Ainda durante os créditos iniciais de Eu Fico Loko, o próprio Christian Figueiredo, um dos youtubbers mais famosos da internet brasileira, deixa claro a quem se destina este filme que conta sua trajetória cheia de reveses e frustrações, é claro, antes dos milhões de seguidores e de ter se tornado uma personalidade influente, principalmente a uma fatia específica de público. Falando diretamente àqueles que acompanham com certa frequência os seus vídeos, ele faz uma introdução engraçadinha, como se o espectador fosse pouco ou nada habituado a ir ao cinema. Não é difícil entender, nesse instante, que Christian conhece sua audiência bem mais que nós. Ele sabe exatamente para quem está falando. Dito isso, chega a ser surpreendente a qualidade deste longa-metragem, sobretudo no que tange às questões intrínsecas à adolescência, um período de muita turbulência e comum a todos.

Christian segue nos fornecendo pistas de como encarar esta cinebiografia precoce ao se definir como um típico perdedor das comédias ou dos dramas norte-americanos ambientados em escolas, especialmente as secundárias. Realmente o que temos é uma sucessão de situações já amplamente exploradas em outras produções. Elas são familiares exatamente porque fazem parte dessa transição, às vezes traumática, da infância à vida adulta. É seguindo, então, uma cartilha surrada, porém eficiente, que o diretor Bruno Garotti constrói cinematograficamente aquilo que está bastante documentado nos vídeos da web. Vemos Christian (Filipe Bragança) enfrentar toda sorte de problemas, vários deles relacionados à timidez e à falta de iniciativa. As aparições do narrador/protagonista promovem uma indispensável proximidade com o espectador, inclusive, induzindo a leitura dos fatos e a compreensão (ou não) das decisões.

Apesar de seguir uma fórmula muito conhecida, Eu Fico Loko possui diversos personagens com os quais facilmente nos conectamos. Óbvio que isso também passa pela forma como Garotti encaixa cada uma das pessoas que fizeram parte da vida de Christian num arquétipo reconhecível, renunciando a qualquer possibilidade de explorar complexidades e ambiguidades mais a fundo. Todavia, a mãe, interpretada por Alessandra Negrini, e o pai, vivido por Marcello Airoldi, não são culpabilizados de nada, pelo contrário. O protagonista sabe que boa parte de seus infortúnios se deveu a ele próprio. Escolhas nem sempre acertadas e atitudes estúpidas são comentadas com toques de autocensura, mas não problematizadas excessivamente, como se fossem barreiras exclusivas ao desejo de ser melhor. A grande sacada aqui é falar de e para adolescentes, relativizando a gravidade de erros comuns, do jogo.

Em determinados momentos as intervenções do Christian real parecem meramente motivacionais, pois mostram que mesmo um jovem considerado perdedor pode chegar a ter sucesso. Eu Fico Loko não é um grande filme, mas tampouco se contenta em capitalizar vulgarmente sobre uma marca virtual já consolidada. No ambiente escolar do protagonista há a paixonite na “friendzone”, o garoto que faz bullying, os nerds ridicularizados por aqueles que se acham mais “descolados”, entre outras figurinhas carimbadas, utilizadas à exaustão, em incontáveis contextos. Bruno Garotti conduz uma narrativa ágil, privilegiando essa empatia com Christian e os demais, atributo sem o qual o resultado seria bem menos competente. Mas, quando o protagonista pede condescendência, é pelos atos, não por fazer parte de algo ruim, já que sua cinebiografia pode não ser excepcional, mas tem qualidades.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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