Crítica

Assisti ao filme Everybody's Fine no último ano, poucos dias antes do Natal. E ele me vez pensar em um monte de coisas. Passei os feriados de final de ano mais uma vez longe de casa. Apesar de ter ficado em Nova York (onde moro) e de ter encarado o frio e a solidão dessa cidade de frente, mostrei que vim pra ficar e que não tenho medo de nada. É por isso que, sabendo das tradições e reconhecendo o valor da minha família, mesmo estando longe fisicamente todos eles estiveram muito presentes em coração. É estranho como certas coisas não se apresentam como importantes até que pareçam perdidas. Mas eram esses valores que não existiam dentro de mim há muito tempo, até que finalmente esbarrei com eles dentro de um cinema em Nova York, no país com os valores mais estranhos do mundo!

Everybody's Fine é fraquinho e devagar, mas ao mesmo tempo é bonito e intrigante. É um filme que conta a história desse senhor viúvo que está esperando seus filhos para o dia de Ação de Graças. Ele preparou tudo como eles gostam, pois moram longe e quase nunca se visitam. É um grande dia pra ele, ou melhor, teria sido um grande dia se de fato eles tivessem aparecido. Só que aos poucos eles vão avisando que, infelizmente, não poderão aparecer. Neste ponto o filme já tinha me pego. Fiquei pensando: "como pode um filho simplesmente ignorar seu pai?". Pois é, fiquei indignado, em choque. Não conseguia entender os motivos deles. E agora precisava ir até o final da história pra saber o que se passava nessa família! Seriam eles 100% disfuncionais e desligados, como muitas famílias aqui são, ou estariam eles simplesmente passando por algo que fosse justificável e não se deram conta do que estavam fazendo?

Independente da resposta, e mais rápido do que eu poderia pensar, nosso patriarca tira o pó de sua mala e vai pra estrada, decidido a visitar um por um. Ele quer mostrar pra eles como é importante estarem juntos pelo menos na época de festas, unidos como uma família. À medida que ele vai viajando e se lembrando de cada pedaço de sua vida, vai também reavaliando sua vida, reinterpretando fases que passou e lições que pensa que ensinou. A cada encontro com seus filhos também vai percebendo como eles mudaram, como a vida deles passou sem que ele percebesse, como de fato não conhece nenhum deles e sabe apenas sobre pequenas partículas de suas vidas.

É aí que Everybody's Fine acerta em cheio, pois nos coloca em perspectiva, nos fazendo pensar sobre o que queremos pras nossas próprias vidas, o que queremos pra nossa família e que tipo de relações temos com essas pessoas que estão ao nosso lado por toda nossa vida mas que talvez não conheçamos tão bem assim. Foi aí que o filme me bateu mais forte. No final não havia mais como não reconhecer que de uma forma ou de outra todos podem se relacionar com essa história, pois ali está a realidade moderna, onde todos trabalham sem parar pra construir a vida perfeita, só que estão sempre tão ocupados que não conseguem aproveitar o que conquistaram. E no final estão perdidos em um mar de objetos materiais, regras e fotos, mas totalmente distantes daquilo que realmente importa: a família.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, trabalha na indústria da moda e entretenimento. Após experiências em renomadas agências internacionais como Ford Models e Marilyn Agency, atualmente está na Elite Models, em Nova York, Estados Unidos. Como jornalista produziu matérias de capa para revistas como Vogue, L'Officiel, Empório e Spezzato e para o site de estilo de vida brasileiro IG Gente. Aqui o autor pretende mostrar o seu ponto de vista sobre o que acontece no mundo da sétima arte em terra estrangeira.
avatar

Últimos artigos deGabriel Rocha (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *