Crítica


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Sinopse

A francesa Ilva Lemoine se apaixona por dois soldados norte-americanos no fim Segunda Guerra Mundial, isso após se envolver com o nazista. Ela precisará escolher entre dois amores enquanto seu entorno continua violento.

Crítica

Entre documentários, curtas e longas-metragens, o francês Claude Lelouch contabiliza mais de cinquenta produções em cinquenta anos de atividade como diretor, roteirista e produtor. A memória, porém, não reservará espaço para aceitá-lo como dono de uma carreira duradoura e frutífera, ou ainda por qualquer aspecto inovador; pertence-lhe o malfadado rótulo de nunca ter  se tornado o realizador que se esperava. Como sói acontecer às eternas promessas, Lelouch jamais superou a si próprio, mais especificamente o clássico autoral Um Homem, Uma Mulher (1966). Ironicamente, o filme a alavancar sua carreira se transformaria em seu grande dogma. Os detratores ferrenhos do homem por trás de Viver por Viver (1967), A Nós Dois (1979), Coragem de Amar (2005) e Crimes de Autor (2007) não tem dúvidas do que lhe falta: talento. O historiador Jean Tulard registra para sempre o rótulo da época: “industrial do amadorismo”. Outros, menos incisivos, atribuem a irregularidade da filmografia ao azar de pertencer ao panorama cinematográfico francês da época, uma espécie de ressaca pós-nouvelle vague que expeliu nomes como Jacques Demy, Agnès Varda e Philippe Garrel.

Independentemente dos rótulos, Lelouch, prestes a completar 74 anos, apresenta Esses Amores não para confirmar ou levantar hipóteses – pois ao final são apenas elucubrações sem importância -, mas para dimensionar o peso e a forma como a própria obra ecoa na memória do diretor. Sem buscar justificativas ou falsas afirmações, o autor francês parece querer dizer-nos que sua carreira não poderia ter sido diferente – sua vida é o cinema e o cinema, a sua vida. A tríade vida-amor-cinema encontra-se na tela porque encontra-se primeiro no homem. Por ser o mais sincero e íntimos dos filmes desde Um Homem, Uma Mulher é que Esses Amores também é o melhor. Na primeira cena, uma senhora acompanha atentamente a orquestração de uma música. Logo a deixamos, voltamos no tempo e somos levados a cenas de cinema mudo. Nele, Lumière apresenta a uma bela jovem o seu fabuloso invento de “recriar a vida”. Pouco depois, estamos no tribunal que julgará Ilva Lemoine (Audrey Dana) pela acusação de homicídio. Em sua defesa está o advogado Simon (Laurent Couson), que buscará no passado de sua cliente argumentos a fim de livrá-la da condenação.

Ilva é uma mulher que se apaixona facilmente, pois desconhece qualquer caminho que não seja os traçados pelo coração. Durante a ocupação nazista na França, envolve-se com o general alemão que salvara seu padrasto. Tempo depois, encontra-se dividida entre Jim (Gilles Lemoire) e Bob (Jacky Ido), dois soldados americanos jovens e bonitos. Diferentes mas igualmente apaixonantes, Ilva consegue decidir por Bob unicamente ao jogar uma moeda. Alheio a qualquer sentimento de culpa, o fronte de batalha poupa apenas Jim, que retorna e inicia um conturbado romance com Ilva. A proposta do início do primeiro ato é a de introduzir em uma relação simultânea a tríade lelouchiana – vida, amor e cinema -, como que a comunicar à plateia a organicidade coexistentes entre os três elementos, na visão do diretor. Porém o resultado não é exatamente o melhor. Na primeira parte, o elemento vida apaga-se durante boa parte do filme, retornando somente ao final em uma ponte pouco interessante e praticamente gratuita. Os elementos restastes, amor e cinema, encaixam-se melhor na trama e conseguem boa unidade. Esses Amores entrecorta-se recorrentemente com a mescla entre a História e a evolução do cinema. O padrasto de Ilva é projetista e ela própria cresceu em uma ambiente completamente cinéfilo; Jim, o soldado americano, está na guerra não como combatente, mas como fotógrafo; a invasão do Dia D na Normandia é tratada com a atenção cinematográfica clássica conferida em obras como O Resgate do Soldado Ryan (1998); o momento do suposto crime exibe exageradamente o pôster de um filme de Alfred Hitchcock.

Em meio a uma trama instável, de ritmo irregular e mise-en-scène conturbada pela proposta grandiloquente, Lelouch ainda assim consegue realizar um filme dramaticamente cativante e com ares de saudosismo reflexivo – como acertadamente deve ser. Suas falhas maiores estão no ato final, quando força a relação do cinema com a vida e repassa de forma quase propagandista os filmes que realizou durante sua carreira. Se dirão que falta talento? Pouco importa.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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Grade crítica

CríticoNota
Willian Silveira
3
Edu Fernandes
8
MÉDIA
5.5

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