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Sinopse

Um homem de negócios, dirigindo sozinho em uma estrada secundária, de repente se vê perseguido por um desconhecido motorista de caminhão.

Crítica

Steven Spielberg estava longe de se tornar “O” Spielberg quando se envolveu na produção de Encurralado, filme realizado originalmente para a televisão que se tornou um cult instantâneo quando levado aos cinemas da Europa e da Austrália, motivo que o colocou posteriormente em algumas salas de exibição estadunidenses. Responsável por impulsionar a carreira do hoje profícuo realizador, na época um jovem e inexperiente diretor em suas primeiras desventuras atrás das câmeras, este intenso e divertido thriller ainda é capaz de deixar seus espectadores na ponta das poltronas.

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Roteirizado pelo renomado escritor Richard Matheson a partir de um conto de sua própria autoria – que por sua vez foi inspirado numa situação verídica vivida por ele – Encurralado acompanha um vendedor que dirige por estradas do deserto californiano até se perceber perseguido por um caminhão petroleiro. Guiado por um motorista que jamais se deixa ver, o gigantesco veículo ameaça o protagonista num jogo de gato e rato com contornos sinistros e sem motivações aparentes. A vítima, David Mann, não acidentalmente tem este sobrenome que se traduz do inglês na mesma fonética que a palavra “homem”: qualquer um poderia ser este motorista intimidado por um inimigo maior, mais forte e impiedoso, projeção esta que Spielberg faz questão de reiterar num convite para espectador ser também o centro de sua trama.

Protagonizado por Dennis Weaver, convidado pelo próprio diretor que o admirava desde seu papel em A Marca da Maldade (1958), de Orson WellesEncurralado tomou forma após 16 exaustivos dias de filmagem e mais de três mil quilômetros rodados. Com pouquíssimos diálogos e muitas cenas de ação e suspense, o filme se desenvolve rapidamente numa sucessão destas sequências complexas e excepcionalmente orquestradas por Spielberg, que apenas três anos depois já estava no comando de Tubarão (1975), considerado o primeiro blockbuster do cinema norte-americano.

Matheson entrega um roteiro minimalista e propenso à ação crescente que só poderia ser plenamente aproveitado por um cineasta que soubesse como capitalizar sobre tal dinâmica. Spielberg apresenta uma direção genuinamente inata, evidenciando o trabalho de um jovem realizador apaixonado pelo universo ao qual se insere com voracidade, muita pesquisa e ousadia. Ele sabe exata e calculadamente onde colocar sua câmera, como no ótimo plano que abre o filme, com uma subjetiva que revela a “perspectiva” do carro para as estradas nas quais ele em breve irá se aventurar. Numa ação ensaiada que busca maximizar a tensão da narrativa, Spielberg divide méritos autorais com o diretor de fotografia Jack A. Malta e o montador Frank Morriss, enquanto antecipa ideias e invenções que estariam presentes em seus filmes seguintes.

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Weaver pode ser o único protagonista do filme, mas sua participação por tantas vezes acaba oculta pelas verdadeiras estrelas do duelo indicado pelo título original da produção: o macabro caminhão e o pequeno, porém ágil, Plymouth Valiant vermelho guiado por Mann. Quando a ação é interrompida e o carro estacionado, seja num restaurante ocupado por motoristas suspeitos ou num posto de gasolina comandado por uma mulher que coleciona cobras, aranhas e lagartos, o filme se permite alguns breves respiros. Sem ter muitas opções para onde ir, Spielberg permite ao seu longa-metragem um final abrupto, mas eletrizante e redentor. Sua motivação era certeira: ao contrário da dinâmica de Encurralado, aqui era o pequeno cineasta quem perseguia determinadamente maiores e melhores objetivos. Seu êxito é tão evidente quanto louvável.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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