En La Estancia
Crítica
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Sinopse
Jesus Vallejo e seu filho, Juan Diego, são os únicos habitantes que restam no povoado A Fazenda. A paz e a tranquilidade das suas vidas são alteradas quando um cineasta chega para filmar um documentário sobre os dois solitários homens. Uma estreita relação se forma entre os três, no entanto, dura poucos dias, até que o documentarista volta para a cidade, mas com a promessa de voltar logo para A Fazenda. Muitos anos passam até que a promessa seja cumprida.
Crítica
Há uma máxima entre os manuais de roteiro que afirma que não se deve nunca mostrar em cena um revólver a não ser que algum personagem pretenda usá-lo até o final da história. Afinal, cria-se uma expectativa tão grande em relação a sua presença que se o mesmo não for utilizado, tudo que restará será frustração. Por outro lado, exibi-lo com bastante antecedência serve apenas para antecipar o que está por vir, tornando o todo um tanto previsível. Esse mal, no entanto, é felizmente contornado pelo mexicano En La Estancia, longa de estreia na ficção do diretor e roteirista Carlos Armella, que dá esse primeiro passo tendo ao seu lado um importante nome de grife: um dos produtores executivos do filme é Alejandro González Iñarritu, vencedor do Oscar por Birdman (2014).
Exibido na mostra competitiva de longas-metragens estrangeiros no Festival de Cinema de Gramado, En La Estancia elabora sua trama a partir da relação que estabelece entre a interação de gêneros e uma sensação inquietante que vai gerando no espectador. Elaborado em três módulos – Espaço, Tempo e Estancia – o filme passeia pelos mais diversos formatos, explorando conceitos e linguagens de maneira bastante experimental. É um risco, que dependendo do formato como for exibido, pode ter reveses problemáticos. Aqui em Gramado, por exemplo, a sessão começou em torno das 23h30, após um outro longa e de dois curtas. O ritmo lento da condução do enredo e a proposta que em alguns momentos se aproxima da videoarte teve seu custo, afugentando espectadores pelo tarde da hora e pelo cansaço da maratona. Certamente, não eram as melhores condições para fazer jus ao belo e original trabalho que estava na tela.
Num primeiro momento, somos apresentados à pequena comunidade de Estancia, um vilarejo no interior mexicano completamente abandonado por seus moradores, sejam em busca de melhores condições de vida ou afugentados pela violência. Restam apenas duas pessoas – seu Jesus (Jesus Vallejo), de 93 anos, e o caçula, Juan Diego (Gilberto Barraza, de La Jaula de Oro, 2013). Os demais filhos foram embora construir suas próprias famílias, e a matriarca há muito faleceu. A dupla vira foco da atenção de Sebastian (Waldo Facco, de Marcelino Pão e Vinho, 2010), um cineasta amador que se interessa em realizar um documentário sobre a rotina deles naquele lugar esquecido por todos. Então, o que vemos é esse registro, no estilo found footage, com muita câmera na mão e improvisos, em que vão relatando suas origens, vivências e esperanças, ao mesmo tempo em que se aproximam do realizador, em uma troca mútua. Quando se afastam, fica apenas a promessa de um regresso breve, para poderem juntos dar continuidade ao que ali estava sendo iniciado.
Depois de um bloco intermediário, sem diálogos e apenas com uma coletânea aleatória de imagens que serve para indicar o quanto de tempo se passou, acompanhamos o regresso de Sebastian, agora ao lado da namorada grávida (Natalia Gatto). Ao chegarem lá, nada mais encontram – nem mesmo os últimos remanescentes. O antigo acordo não foi cumprido com o imediatismo que talvez fosse esperado por aqueles que ficaram para trás, e a solidão que permanece traz consigo um sentimento de angústia e dor. Há muitos questionamentos, e quase nenhuma resposta: por que voltaram? De que estão fugindo? Se o filme não foi terminado, qual a razão desse novo encontro? E para onde foram Juan Carlos e Jesus?
Assumindo um ponto de vista quase que inteiramente subjetivo, como se fôssemos alguém os observando à distância, o suspense crescente que se forma tem muito a oferecer ao projeto. Aqueles que conseguirem superar os capítulos iniciais e se dedicarem a essa conclusão serão recompensados por um cenário de desolação e desamparo, tanto nas paisagens quanto no interior de cada um destes personagens. E imaginar a explosão que se dará no último encontro entre eles não chega a ser uma tarefa das mais complicadas. Porém, o mais intrigante não são os fatos que se sucedem, e sim a forma como eles acontecem. E no final, quando percebemos o ciclo se fechando e antigas vontades enfim se realizando, percebemos o quanto as coisas realmente podem acontecer, mesmo que pelas linhas mais equivocadas. Não importando, para isso, o alto preço a ser pago.
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