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Sinopse

Elvis é uma entregadora de pizza. Madona é uma travesti que sonha em produzir um espetáculo. O encontro dessas duas pessoas provoca um envolvimento tão inusitado quanto bonito e acolhedor.

Crítica

Os dois são nomes que mexem com o imaginário pop. Elvis vem de Elvis Presley, o rei do rock, ídolo imortal de multidões. Presley morreu no dia 16 de agosto de 1977. Neste mesmo dia, porém 19 anos antes, nascia Madonna Louise Veronica Ciccone, ou como o mundo veio a conhece-la posteriormente, apenas Madonna. E se ele foi rei, ela é a rainha do pop. São pouquíssimos os artistas que podem ser comparados aos dois, seja em talento ou em popularidade. E se os destinos deles estiveram ligados por um dia – morte dele, nascimento dela – o cinema brasileiro tratou de colocá-los definitivamente lado a lado. Mas é importante destacar, com suas devidas e imprescindíveis diferenças – que vão além do “n” a menos no nome dela. Afinal, nas telas tupiniquins Elvis virou ela, enquanto que Madona luta para deixar de ser ele.

Escrito e dirigido por Marcelo Laffitte, Elvis & Madona conta a história de um casal inusitado: o romance que surge entre uma lésbica (Elvis) e uma travesti (Madona). Laffitte, antes de se aventurar neste que é seu primeiro trabalho como realizador, trabalhou como produtor assistente de filmes como Bete Balanço (1984), de Lael Rodrigues, e O Xangô de Baker Street (2001), de Miguel Faria Jr., além de ter dirigido uma variedade de curtas. Toda essa experiência lhe foi suficiente para criar uma drama que sabe prender a atenção do público. Por outro lado, os aprendizados prévios não lhe bastam no sentido de desenvolver sua criação num sentido inteiramente original, pois percebe-se dificuldades em evitar os clichês mais comuns, oferecendo um olhar que não consegue escapar das armadilhas por ele próprio armadas. É um longa com (alguns) altos e (muitos) baixos, mas que no saldo final consegue ficar acima da média.

Muito dos méritos de Elvis & Madona estão na escolha do elenco, que aposta como casal central a excelente Simone Spoladore (Elvis) e o surpreendente Igor Cotrim (Madona). Ela cria uma garota que, para se ver livre da influência dos pais, decide trabalhar como motoboy numa pizzaria ao mesmo tempo que experimenta a independência, como o primeiro apartamento e a certeza de seus interesses sexuais. Certa noite, ao atender um pedido de trabalho, conhece Madona (Cotrim), uma travesti que já passou por poucas e boas e que, mesmo assim, insiste em ver o lado bom das coisas. Não que seja uma poliana, pura e ingênua. Muito pelo contrário. Apenas não se deixa abalar pelas pedras do caminho e segue sonhando com o estrelato dos palcos, longe do salão em que lida diariamente como cabelereira. Ambos estão sozinhos no mundo, lutando bravamente, cada um ao seu modo, para permanecerem de pé e seguirem em frente. Um no olho do outro encontra um abrigo, um porto seguro. Mas conseguirão superar todas as diferenças que existem entre eles e também aos seus redores para conseguirem, juntos, construir algo novo?

Premiado no Festival do Rio (Melhor Roteiro) e na APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte (Melhor Atriz, para Spoladore), Elvis & Madona foi reconhecido também no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro como Revelação do Ano (Cotrim). São feitos que destacam algumas das importantes qualidades do filme, uma obra que não precisa ser perfeita para se justificar. Participações especiais de Maitê Proença (Onde andará Dulce Veiga?) e de José Wilker (Sexo com Amor?) conferem um charme maior a esse trabalho que ficou mais de um ano, após ser finalizado, na lista de espera para ganhar um espaço nas telas brasileiras. Teve uma distribuição canhestra, e muita gente ainda deve descobri-lo. Simpático, bem humorado e livre de preconceitos, consegue, a despeito de suas falhas, acrescentar algo ao gênero tão batido da comédia romântica e ainda oferece uma outra visão – mais tolerante, colorida e militante – sobre um tema que sempre merece ser pensado com carinho, o processo de formação das novas famílias.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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